Ontem no Observador Alexandre Homem Cristo retomou a questão de serem os alunos com notas mais baixas no
ensino básico e secundário os que mais revelam a intenção de ser professor.
Também nos processos de candidatura ao ensino superior são os alunos com médias
mais baixas que se candidatam a cursos de Formação de Professores e Ciências da
Educação. Esta situação é de sinal contrário ao que se passa em muitos países.
AHC produz uma análise que merece
reflexão embora em algumas questões, como o povo diz, me pareça “uma no cravo,
outra na ferradura”.
Esta questão não é nova e retomo
algumas notas que creio oportunas.
Uma síntese dos dados. Os
candidatos aos cursos de Formação de Professores e Ciências da Educação tiveram
na 1ª fase uma média de 130.7 em 200, apenas acima dos candidatos aos cursos de
Serviços Social. Por outro lado, segundo os dados do PISA de 2015 só 1.5% dos
alunos de 15 anos envolvidos encara a possibilidade de ser professor sendo que
estes alunos se situam nos níveis mais baixos de resultados a Matemática e Leitura,
o contrário do que se verifica noutros
países.
Dito de outra maneira e de forma
simples, são fundamentalmente os alunos de 15 anos com menor desempenho médio
(critério PISA) que admitem vir a ser professores e são basicamente os alunos
mais “fracos”na finalização do secundário que se candidatam a professores. No
entanto, é interessante recordar que no PISA de 2012 e no conjunto dos vários
países, a maioria dos alunos portugueses é da opinião de que os professores os
ajudam. Portugal e Finlândia lideravam a satisfação com a ajuda prestada pelo
corpo docente (83% e 85%, respectivamente). Isto quer dizer, conforme outros
estudos demonstram, que os alunos valorizam os professores mas não a profissão
o que de facto merece reflexão.
Duas notas prévias.
Em primeiro lugar julgo ser
necessária prudência, também recomendada por AHC, sobre a interpretação destes
dados e o seu impacto na qualidade dos trajectos futuros, a relação entre o
perfil de desempenho de um aluno de 15 anos ou as médias do acesso ao ensino
superior e o seu potencial desempenho futuro como professor deve ser vista com
extrema reserva. Não é garantido que estes alunos venham a ser maus
profissionais como não é garantido que todos os alunos com médias mais elevadas
que se candidatam a outras áreas científicas venham a ser excelentes
profissionais.
Uma segunda nota para defender
que este cenário também se liga ao mecanismo de acesso ao superior, dimensão
não considerada por AHC. De há muito que defendo que as médias de conclusão do
secundário deveriam ser apenas um dos critérios de acesso ao superior e que
deveriam ser as instituições de ensino superior a estabelecer o conjunto de critérios
na ordenação do acesso às diferentes áreas científicas. Um caso simples (talvez
demasiado simples) para ilustrar isto. Eu quero ser professor mas sei que as
notas de acesso são baixas devido á baixa procura. Assim e como não me parece
particularmente motivador o que ando a aprender no secundário, cumpro a
formação com resultados baixos que me permitem aceder ao meu sonho no qual vou
investir e e ser bom aluno e bom profissional. É inverosímil? Não creio.
No caso dos professores e das
ciências da educação, como noutras áreas, não é impossível desenhar
dispositivos de acesso que despistem vocações e motivações, competências
diversas e requisitos considerados pertinentes e considerem também,
naturalmente, as médias de conclusão do secundário.
No que que respeita à construção
de um bom professor importa ainda não esquecer variáveis fundamentais, a
qualidade da sua formação o que obriga a reflectir sobre o que é feito nesta
matéria e a regulação do acesso à carreira profissional através da única forma
de o fazer correctamente, o desempenho em sala de aula, e não uma sinistra PACC
de má memória. O surgimento nas últimas décadas de inúmeras instituições de
formação de professores e a incapacidade reguladora da tutela implicou enormes
riscos de qualidade, num território com a nossa dimensão é difícil constituir
tantos corpos docentes qualificados e experientes. O resultado tem sido o
convívio sem sobressaltos entre a excelência e a mediocridade delegando no sentido ético, empenhamento, apoio e auto-formação de cada docente a competência do seu exercício. É evidente que ao longo da carreira profissional assim continuará a ser mas é crítica a qualidade da formação inicial
Por outro lado também são de
considerar alguns ouros aspectos. Não creio que a este cenário seja alheio o
conteúdo de alguns discursos produzidos sobre os professores que desvalorizam e
empobrecem o seu estatuto social e a representação sobre a classe e que são
produzidos, por exemplo, por “opinion makers” que frequentemente têm agendas
implícitas e quase sempre estão mal informados. No Observador, é só um exemplo,
não é raro que tal aconteça.
Talvez também não seja alheia a
instabilidade nas políticas educativas com impacto óbvio na estabilidade das
carreiras e da sua valorização. Provavelmente em muitas famílias, as que mais
probabilidades terão de ter filhos com melhor desempenho escolar, a profissão
professor não é uma escolha incentivada ou, no mínimo, bem aceite.
Também alguns discursos vindos
dos próprios representantes dos professores podem muitas vezes contribuir para
equívocos e representações desajustadas sobre os professores e os seus
problemas.
Julgo ainda que deve ser
considerado o impacto de alterações nos valores, padrões e estilos e vida das
famílias que fazem derivar para a escola, para os professores, parte do papel
que competia(e) à família. Este trabalho é realizado, muitas vezes, sem
qualquer tipo de apoio ou suporte, com cada professor entregue a si mesmo em
climas institucionais pouco favoráveis.
Deste cenário resulta como tantas
vezes tenho afirmado a necessidade da valorização dos docentes e da sua
profissão de modo a que se torne mais atractiva. Relembro ainda que o
envelhecimento muito significativo da classe colocará muito provavelmente a
necessidade de docentes questão que também AHC considera e bem.
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