A presença das crianças das
comunidades ciganas nas escolas públicas nem sempre é algo de pacífico e
tranquilo como seria desejável que acontecesse. Crianças em idade escolar a
frequentar a escola é, deveria ser, obviamente, uma situação normal.
A questão é que os fenómenos de
guetização presentes sobretudo no que toca à comunidade cigana e que são
complexos, produzem com frequência situações como a que agora volta a ser
notícia. Numa escola do Algarve ter-se-á colocado numa turma todas as crianças de etnia cigana que frequentam
a escola bem como se terão registado comportamentos de discriminação. A estão está em investiga e é referido que na mesma turma estão alguns
alunos com dificuldades reconhecidas ou em situação de risco educativo. Que
escola ou que escolas devem frequentar as crianças da(s) comunidade(s)
cigana(s)? Como deve ser gerida a sua colocação em turmas?
Com frequência, já não é o
primeiro caso, justifica-se este tipo de medida com melhorias nos resultados
escolares.
Mesmo que tal possa acontecer e
importaria perceber de forma mais rigorosa as variáveis que explicariam o
progresso e não será obviamente o “juntar dos maus” será sempre questionável a
bondade da decisão.
Pela mesma razão, se numa
qualquer cidade da Suíça ou da Bélgica fossem constituídas turmas apenas com
filhos de emigrantes portugueses e mesmo que os resultados escolares dos miúdos
fossem positivos a medida não seria positiva pois a educação é muito mais que o
resultado escolar, por mais importante que este seja, evidentemente.
Também me parece, posso estar
enganado, que para alguns de nós o que se pode entender com miúdos ciganos não
seria aceitável com miúdos filhos de emigrantes portugueses num país
estrangeiro.
Na verdade e sem surpresa emerge
uma conflitualidade de interesses em torno destas questões assente em valores,
experiências negativas ou positivas, estereótipos ou preconceitos de natureza e
sinal diferente, dificuldades nas respostas aos problemas, etc.
A pior das soluções parece ser a
definição de uma situação que alimente e prolongue a guetização, isto é, para
crianças de uma comunidade guetizada uma escola guetizada ou uma turma
guetizada.
Em termos formais, distribuir as
crianças por várias escolas ou por várias turmas parece mais ajustado. A
questão é que não chega.
Como é conhecido por quem lida
com estas matérias, não basta ter as crianças na escola para que tudo corra
bem. As experiências mostram que as escolas precisam de ter dispositivos e
recursos suficientes e competentes que promovam a presença bem-sucedida destes
miúdos, como, aliás, de todos os outros. Questões desta natureza não afectam
apenas os alunos de etnia cigana, envolvem grupos de crianças como, mais um
exemplo, as crianças com necessidades educativas especiais.
Caso contrário, temos o que por
vezes designo por “entregação” (estão entregues) e não integração, com os
problemas conhecidos daí decorrentes ao nível da aprendizagem, comportamento,
absentismo e conflitualidade e reacções negativas de alguns pais e professores,
ainda que com a concordância de outros.
Por outro lado, as próprias
comunidades ciganas devem ser objecto de intervenção e exigências que não pode
ficar na atribuição de uma casa num qualquer bairro social (mais um gueto) e na
atribuição, por vezes desregulada, do Rendimento Social de Inserção.
Nada mudará e os problemas
repetem-se.
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