Segundo um estudo do Observatório sobre Crises e Alternativas, do Centro de Estudos Sociais a economia portuguesa,
mesmo nesta fase de melhores resultados, mostra um trajecto claro de precariedade
nas relações laborais.
Como é sabido, os gurus do
neoliberalês entendem a que a flexibilidade do mercado de trabalho é uma das
peças fundamentais para o desenvolvimento económico.
nesta perspectiva Portugal está no bom caminho, tem um dos
maiores indicadores europeus de contratação a prazo.
Neste cenário, os desequilíbrios
fortíssimos entre oferta e procura em diferentes sectores, a natureza da
legislação laboral favorável à precariedade e insensibilidade social e ética de
quem decide, promovem a proletarização do mercado de trabalho mesmo em áreas
especializadas ou mesmo o recurso a uma forma de exploração selvagem com uma
maquilhagem de "estágio" sem qualquer remuneração a não ser a
esperança de vir a merecer um emprego pelo qual se luta abdicando até da
dignidade.
Acontece ainda que alguns dos
vencimentos que se conhecem, atingindo também camadas altamente qualificadas,
não são um vencimento, são um subsídio de sobrevivência.
É justamente a luta pela
sobrevivência que deixa muita gente, sobretudo jovens sem subsídio de
desemprego e à entrada no mundo do trabalho, sem margem negocial, altamente
fragilizadas e vulneráveis, que entre o nada e a migalha "escolhem
amigavelmente" a "migalha", ou mesmo uma remota hipótese de um
emprego no fim de período de um indigno trabalho gratuito.
É um desastre, grave e dramático
é que as pessoas são "obrigadas" a aceitar. Os mercados sabem disso,
as pessoas são activos descartáveis.
Acontece que a precária de vida
paga em migalhas que a maior parte da gente nova por cá vai arrranjando, em
alternativa ao desemprego ou à partida para longe, impede projectos de vida
viáveis, com potencial de realização pessoal, com horizontes razoáveis, que
possam incluir projectos de maternidade ou paternidade necessários num país que
atravessa um profundo inverno demográfico. Inibe a criação de condições de
autonomia e independência face às gerações dos seus pais que também têm os seus
rendimentos ameaçados, Tudo para eles é precário.
Mas .... é a economia, estúpido.
Parece que o desenvolvimento se
consegue assim, com precariedade e baixos salários, dizem os cérebros do
neoliberalês que de precário apenas têm garantido o corpo que habitam e só
porque ainda não foram capazes de comprar a eternidade.
Tudo o resto lhes está
assegurado.
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