Alguma imprensa de hoje trata uma
questão que merecia maior atenção por parte da comunidade, a adopção de crianças
institucionalizadas.
Apesar das alterações realizadas
ma lei no sentido de agilizar os processo de adopção o cenário continua sem
mudanças significativas e boa parte das crianças institucionalizadas com
processo de adopção proposto continuam ... institucionalizadas.
De facto, e 2016 de entre as 8175
institucionalizadas, 830 tinha projecto de adopção proposto e apenas 361
situações se verificaram. No início de 2016 estavam 399 crianças que ninguém se
mostrava disponível para adoptar apesar das perto de 200o famílias em lista de
espera para adoptar. Entre 2015 e 2016 também diminuíram os pedidos de adopção.
É na verdade um processo complexo
e de uma enorme delicadeza dados custos emocionais e psicológicos envolvidos
sobretudo para as crianças mas também para os adultos, técnicos e e famílias
adoptantes.
Como muitas vezes aqui tenho
referido, apesar da evolução que se tem constatado, continuamos com uma elevada
quantidade de crianças institucionalizadas, muitas das quais sem projectos de
vida viáveis pese o empenho dos técnicos e instituições. É também reconhecido
que os processos de adopção, apesar das alterações, ainda são morosos e que
muitas crianças não reúnem condições que lhes facilitem a adopção. As crianças
mais velhas, com irmãos, de minorias étnicas ou com necessidades especiais
passam por maiores dificuldades ou mesmo impossibilidade de adopção.
É fundamental que continuemos a
tentar promover até ao limite promover a desinstitucionalização das crianças
por múltiplas e bem diversificadas razões e, portanto, minimizar a sua
institucionalização que, quando necessária, deveria ser desejavelmente transitória.
Recordo um estudo da Universidade
do Minho mostrando que as crianças institucionalizadas revelam, sem surpresa,
mais dificuldade em estabelecer laços afectivos sólidos com os seus cuidadores
nas instituições. Esta dificuldade pode implicar alguns riscos no
desenvolvimento dos miúdos e no seu comportamento. A conclusão não questiona,
evidentemente, a competência dos técnicos cuidadores das instituições, mas as
próprias condições de vida institucional e aponta no sentido da adopção ou
outros dispositivos como forma de minimizar estes riscos e facilitar os
importantes processos de vinculação afectiva dos miúdos.
Neste contexto acentua-se a
importância da promoção da existência de mais famílias de acolhimento que
respondam às situações que não são para adopção e promover processos de adopção
mais ágeis. Existem contextos familiares que podem reverter situações negativas
que justificam a retirada dos menores durante algum tempo e com apoio
reconstruir uma relação familiar bem-sucedida.
Uma família que de facto o seja é
um bem de primeira necessidade na vida de uma criança. Citando um autor muito
conhecido na área da educação e do desenvolvimento, Bronfenbrenner, "Para
que se desenvolvam bem, todas as crianças precisam que alguém esteja louco por
elas".
A propósito destas matérias muitas
vezes aqui tenho citado uma expressão que em tempos a Laborinho Lúcio num dos
encontros que tenho tido o privilégio de manter com ele.
Numa conversa que mantínhamos
perante um auditório repleto pedindo às pessoas para ouvirem até ao fim o que
iria dizer e não reagirem de imediato afirmou, "só as crianças adoptadas
são felizes, felizmente a maioria das crianças são adoptadas pelos seus pais”.
A verdade é que para além das
crianças sem família também existem crianças que não chegam a ser adoptadas
pelos seus pais, crescem sós e abandonadas.
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