segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

PAS DE CELLULAIRES, S'IL VOUS PLAIT

O Expresso noticia que o Ministério da Educação francês decidiu que a partir do próximo Setembro as crianças francesas entre os 6 e os 15 anos estão proibidas de usar ou consultar telemóveis e smartphones no receio e nos intervalos para almoço.
Segundo o Ministro, “Hoje em dia, as crianças já não brincam no recreio, porque estão todas à volta do seu smartphone e entende que a decisão é "uma mensagem de saúde pública para as famílias".
Embora a razão que a sustenta, o uso excessivo deste tipo de dispositivos por parte de crianças e adolescentes com risco directos e indirectos reconhecidos, seja óbvia a decisão não é consensual.
Ao que parece existem pais que se inquietam com a impossibilidade de contactar com os filhos e também se colocam questões de natureza logística, como recolher, guardar e devolver a quantidade de telemóveis no entanto esta é a parte que me parece menos discutível se bem que a dificuldade logística seja evidente.
Acresce que a utilização dos smartphone e telemóveis nas salas de aula como ferramenta de trabalho e de suporte à aprendizagem e ao conhecimento está aí e está para se incrementar o que me parece natural. Fica algo estranho que nas aulas possam trabalhar com os dispositivos e no intervalo sejam proibidos de os utilizar.
Não tenho nenhuma convicção que esta estratégia de proibição devolva crianças e adolescentes à conversa e aos “jogos tradicionais”.
A questão estará a montante, a utilização que nós todos damos a estes dispositivos. Seria bastante mais interessante que se discutisse a sério nas comunidades educativas a regulação dos comportamentos e definição de regras e limites, sem “supernannys”, sem “superdaddys” ou “superstores”. No entanto esta discussão tem de ser acompanhada pela nossa, adultos e profissionais, regulação da sua utilização. Se olharmos para muitas famílias em “convívio” ou para muitos contextos profissionais em “reunião” e repararmos o que está acontecer nos ecrãs que muitos terão à sua frente perceberemos o que está por fazer, comportamento gera comportamento.
Apesar de bem-intencionada a decisão da proibição não me parece eficaz e, mais do que isso, pode vir a constituir parte do problema e não um bom contributo para a solução.

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