segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

OS MIÚDOS QUE GRITAM E OS ADULTOS QUE SÃO SURDOS

Há umas semanas, ainda em tempo de férias escolares, estava a almoçar com um gaiato da família num daqueles espaços de restauração que sempre têm gente nova, adivinharam, isso mesmo, um McDonald's. Numas mesas perto de nós estavam dois casais, gente ainda nova, que tinha à volta três ou quatro crianças, talvez entre os cinco e os sete, oito anos.
Bom, nem vos conto, aquelas alminhas pequenas já teriam almoçado pelo que, enquanto os papás continuavam na "tranquilidade" do repasto, saltitando entre a conversa e os telemóveis, os pequerruchos entretinham-se a gritar, a correr de um lado para o outro, tropeçando nas mesas, entornando papéis e lixo, enfim, animando o almoço dos presentes.
Os papás, de vez em quando, soltavam um distraído e ineficaz, "estejam quietos", "portem-se bem" e continuavam "tranquilamente" na conversa que, dado o barulho, não me parecia sequer fácil de manter.
Às tantas, tinha uma gaiata com uns cinco anos a gritar-me aos ouvidos. Olhei para a mocinha com uns olhos que tenho guardados para quando é preciso, uns que aprendi com o meu pai quando me dizia o que deveria ser feito, que ela recuou, mas foi gritar para o pé de outro bafejado com a sorte de tal experiência.
Fiquei a pensar como gritam estes miúdos, muitos miúdos, a estes acho que nem os ouvi usar um tom de voz normal, seja lá isso o que for, apenas gritos.
Há quem diga que é por causa da educação que levam, ou da falta dela, que os meninos passam o tempo gritar. Eu acho que não é um problema de educação.
Eu creio que os miúdos gritam muito porque, de uma forma geral, os adultos estão mais surdos. Quando os miúdos falam mais baixo os adultos não os ouvem e, por isso, os putos desatam a gritar a ver se alguém lhes liga. O problema é que, muitas vezes, nem assim.
Esta história não tem rigorosamente a ver com superpais e uma Supernanny disparatada.
Tem apenas a ver com atenção, bom senso e regulação que pressupõe afecto, regras, limites e autonomia.

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