Há umas semanas, ainda em tempo
de férias escolares, estava a almoçar com um gaiato da família num daqueles
espaços de restauração que sempre têm gente nova, adivinharam, isso mesmo, um
McDonald's. Numas mesas perto de nós estavam dois casais, gente ainda nova, que
tinha à volta três ou quatro crianças, talvez entre os cinco e os sete, oito
anos.
Bom, nem vos conto, aquelas
alminhas pequenas já teriam almoçado pelo que, enquanto os papás continuavam na
"tranquilidade" do repasto, saltitando entre a conversa e os telemóveis,
os pequerruchos entretinham-se a gritar, a correr de um lado para o outro,
tropeçando nas mesas, entornando papéis e lixo, enfim, animando o almoço dos
presentes.
Os papás, de vez em quando,
soltavam um distraído e ineficaz, "estejam quietos", "portem-se
bem" e continuavam "tranquilamente" na conversa que, dado o
barulho, não me parecia sequer fácil de manter.
Às tantas, tinha uma gaiata com
uns cinco anos a gritar-me aos ouvidos. Olhei para a mocinha com uns olhos que
tenho guardados para quando é preciso, uns que aprendi com o meu pai quando me
dizia o que deveria ser feito, que ela recuou, mas foi gritar para o pé de
outro bafejado com a sorte de tal experiência.
Fiquei a pensar como gritam estes
miúdos, muitos miúdos, a estes acho que nem os ouvi usar um tom de voz normal,
seja lá isso o que for, apenas gritos.
Há quem diga que é por causa da
educação que levam, ou da falta dela, que os meninos passam o tempo gritar. Eu
acho que não é um problema de educação.
Eu creio que os miúdos gritam
muito porque, de uma forma geral, os adultos estão mais surdos. Quando os
miúdos falam mais baixo os adultos não os ouvem e, por isso, os putos desatam a
gritar a ver se alguém lhes liga. O problema é que, muitas vezes, nem assim.
Esta história não tem
rigorosamente a ver com superpais e uma Supernanny disparatada.
Tem apenas a ver com atenção, bom
senso e regulação que pressupõe afecto, regras, limites e autonomia.
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