Confesso que senti um sobressalto
de inquietação quando li a notícia do Público que recorrendo a um trabalho do
The Guardian refere o facto de se assistir com frequência crescente em escolas
da Alemanha ao recurso à colocação de coletes de areia com peso variado em
crianças diagnosticadas com Perturbação de Hiperactividade e Défice de Atenção.
A medida, dizem alguns testemunhos terá efeitos positivos e será menos “agressiva”
que a medicação. A evidência científica sobre estes efeitos é frágil e por isso vale a pena ler toda a peça do The Guardian.
Umas notas breves.
Conhecem-se todas as reservas que
em diferentes países se têm vindo a colocar relativamente à base científica
para o exponencial aumento de diagnósticos deste tipo de problemas e o consequente
disparar do consumo do metilfenidato mais conhecido por um dos seus nomes
comerciais, Ritalina. Portugal é um bom exemplo. Segundo dados do Infarmed, em
2010 prescreveram-se no SNS 133 562 embalagens e em 2016 o número foi 270 492.
É ainda de considerar que em 2015 63% do volume do fármaco foi usado entre os
10 e os 19 anos e 26% até aos 9 anos. Os adultos consumiram “apenas” 7% do
volume total de prescrições. Um cenário que merece a maior das atenções.
No entanto, a minha inquietação
remete para a natureza da “opção” terapêutica ou educativa, por assim dizer,
vestir um pesado colete de areia às crianças melhora a sua hiperactividade e/ou
défice de atenção.
Será que pode valer tudo em nome
de uma suposta melhoria provocada por um peso às costas que condicionará a
mobilidade. Terá também propriedades relaxantes como se anunciam para alguns
dispositivos naqueles inenarráveis anúncios televisivos das horas de almoço?
Ainda segundo a notícia do The
Guardian os coletes oscilam 1,2 e seis Kg têm custos entre 140 e 170 euros.
Como será calculada a “dose terapêutica” adequada?
Tenho um enorme respeito pelas
dificuldades sentidas por pais e educadores que lidam com as crianças e os
problemas que as possam afectar. Tenho ainda mais respeito pelas crianças que sofrem
em diferentes circunstâncias, sejam pelo que realmente as afecta, seja pelas
consequências de intervenções desenhadas com base no que se “acha” que as
afecta.
No entanto, considero que a
dignidade das crianças é uma linha vermelha que não pode, não deve, ser
ultrapassada.
É também o entendimento de alguns
especialistas citados pelo The Guardian.
Sem comentários:
Enviar um comentário