sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

UMAS NOTAS NO PÚBLICO, "SUPERNANNY: EDUCAÇÃO FAMILIAR, COMPORTAMENTO E ESCOLA

Umas notas no Público sobre uma das matérias na agenda. “Supernanny: Educação familiar, comportamento e escola”.

"Um dos efeitos que me pareceu mais inquietante produzido na sequência do programa da SIC “Supernanny”, lamentável a vários níveis registe-se, foi o desencadear de discursos sobre a excessiva permissividade na educação familiar quase sempre acompanhados por referências à falta de uma “pedagogia do chinelo” (com diferentes designações) como fonte de todos os problemas e dificuldades sentidas na educação familiar e com repercussões noutros contextos de vida de crianças e adolescentes, designadamente, na escola.
Se por um lado a referência a algum excesso de permissividade em alguns contextos familiares me parece ajustada, a defesa de um estilo educativo contido na “pedagogia do chinelo” apesar de colher alguma simpatia, veja-se boa parte dos conteúdos das caixas de comentários da imprensa, levanta sérias dúvidas e é geradora de inúmeros equívocos.
Estes equívocos estendem-se à comunidade escolar com atribuição quase exclusiva das causas de indisciplina escolar a falhas no exercício da parentalidade. Sabemos que existe evidentemente uma relação significativa entre educação familiar e comportamento escolar mas importa não esquecer que o comportamento na escola é também influenciado por outras variáveis para além da família como o número de alunos por turma e as suas características, dimensão da escola, currículos, clima e liderança da escola, apoios e suporte ao trabalho de professores, formação, segurança e experiência do professor, etc.
Neste contexto e pensando sobretudo na educação familiar, um pequeno contributo para a reflexão que me parece desejável, diria imprescindível.
(...)

Deixem-me repetir o que já aqui escrevi para reforçar algumas ideias do texto..
Talvez possamos perceber que na verdade não precisamos de “superpais”, “superfilhos” ou “superprofessores” tal como não precisamos de discursos inconsequentes sobre a culpa ou inquietantes como a falta de “pedagogia do chinelo” tão referida nas caixas de comentários dos jornais.
Precisamos de pais confiantes, seguros, com tempo para o serem, com diálogo com outros pais e com apoios para as dificuldades que surgem e são naturais, os miúdos não vêm com “manual de instruções” e “times they are a-changing’”, também nas famílias.
Precisamos de professores competentes, apoiados por colegas, directores e tutela, valorizados e reconhecidos profissional e socialmente e que contem com apoio para as dificuldades.
Precisamos de crianças que cresçam rodeados pela combinação certa de tempo, afecto, regras e limites que as ajudem a um desenvolvimento saudável e autónomo. Não precisam de ser excelentes a tudo nem cumprir uma agenda intoxicante de actividades fantásticas.
É pedir muito?.

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