quarta-feira, 17 de maio de 2017

SÓ APRENDE QUEM SE RI

A audição de ontem na comissão parlamentar de Educação e Ciência a Secretária de Estado Adjunta e da Educação anunciou que no próximo ano lectivo se verificará um reforço de verbas para a um reforço de verbas da Acção Social Escolar contemplando reforço da oferta das refeições escolares nos períodos de interrupção lectiva, voltando a apoiar as visitas de estudo em anos ao abrigo da Acção social Escolar e criando um 3.º escalão de abono no apoio à aquisição dos manuais escolares.
O aumento de apoios desta natureza é importante, ontem foram divulgados dados que evidenciam que apesar de alguma recuperação a situação de pobreza e risco de pobreza atingem ainda cerca de 25% da população portuguesa e sabe-se que as crianças, tal como os velhos, constituem o grupo mais vulnerável.
Há poucos dias o estudo da Direcção Geral de Estatísticas da Educação e Ciência, “Resultados escolares por disciplina - 2º ciclo - ensino público" sublinhou a de há muito reconhecida relação entre o desempenho escolar e o contexto socioeconómico familiar, no 5º ano 44% dos alunos no escalão máximo de acção social escolar tiveram negativa a Matemática, 28% dos alunos no segundo escalão e 16% não envolvidos em dispositivos de apoio.
A verdade é que o impacto das circunstâncias de vida no bem-estar das crianças e em aspectos mais particulares no rendimento escolar e comportamento é por demais conhecido e essas circunstâncias constituem, aliás, um dos mais potentes preditores de insucesso e abandono quando são particularmente negativas, como é o caso de carências significativas ao nível das necessidades básicas.
Um Relatório de 2013, "Food for Thought", da organização Save the Children, afirmava que 25% das crianças terão o seu desempenho escolar em risco devido à malnutrição com as óbvias e pesadas consequências em termos de qualificação e qualidade de vida de que a educação é uma ferramenta essencial.
Por isso gosto tanto da história que conto tantas vezes e uma das maiores lições que já recebi, acontecida há uns anos em Inhambane, Moçambique. Ao passar por uma escola para gaiatos pequenos o Velho Bata, um homem velho e sem cursos, meu anjo da guarda durante a estadia por lá, disse-me que se mandasse traria um camião de batata-doce para aquela escola. Perante a minha estranheza, explicou que aqueles miúdos teriam de comer até se rir, “só aprende quem se ri”, rematou o Velho Bata.
Pois é Velho, miúdos com fome não prendem e vão continuar pobres.

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