A Direcção Geral de Estatísticas
da Educação e Ciência divulgou um estudo “Resultados escolares por disciplina - 2º ciclo - ensino público" relativo ao ano de 2014/2015 a que o Observador faz referência.
Para além de outros dados,
salienta-se que a Matemática é claramente a disciplina que os alunos têm menor desempenho. Cerca de 30% dos alunos tiveram resultado negativo e é também a disciplina em que os alunos sentem mais dificuldade em
recuperar, passar de resultado negativo para resultado positivo.
Registe-se ainda a relação entre
o desempenho escolar e o contexto socioeconómico familiar, no 5º ano 44% dos
alunos no escalão máximo de acção social escolar tiveram negativa a Matemática,
28% dos alunos no segundo escalão e 16% não envolvidos em dispositivos de apoio.
Relativamente a este último
aspecto os resultados mostram o que todos conhecemos, a associação entre
variáveis de contexto socioeconómico e os resultados escolares, o que todos
desejamos, que a escola possa fazer a diferença e contrariar o destino. As boas
práticas e experiências conhecidas mostram que é possível. Não podemos falhar.
Quanto à questão mais particular
dos piores resultados em matemática e que, evidentemente, não começam no 2º
ciclo, nem aí acabam, a sua explicação é complexa.
Estes resultados serão influenciados,
não numa relação de causa-efeito, por múltiplas variáveis, desde logo como já
vimos pelas circunstâncias sociodemográficas onde não pode deixar de se
incluir, o nível de escolaridade dos pais.
Por outro lado, variáveis como
modelo e conteúdos curriculares, número de alunos por turma, tipologia das
turmas e das escolas, dispositivos de apoio às dificuldades de alunos e
professores ou questões de natureza didáctica e pedagógica terão também algum
peso e algumas vezes já aqui referimos estas questões.
Acresce a esta complexidade um
conjunto de outras variáveis menos consideradas por vezes mas que a experiência
e a evidência mostram ter também algum impacto.
São variáveis de natureza mais
psicológica como a percepção que os alunos têm de si próprios como capazes de
ter sucesso, os alunos de meios menos carenciados percebem-se como mais capazes
de aprender matemática.
É também conhecido que os pais com mais qualificação e de mais elevado estatuto económico têm expectativas mais
elevadas sobre o desempenho escolar dos filhos o que se repercute na acção
educativa e nos resultados escolares e, naturalmente, mais facilmente mobilizam
formas de ajuda para eventuais dificuldades, seja nos TPC, seja através de ajuda
externa.
Finalmente uma outra variável
neste âmbito, a representação sobre a própria Matemática. Creio que ainda hoje
e de um a forma geral existe uma percepção passada nos discursos de que matemática
é uma “coisa difícil” e que só os mais “inteligentes” têm “jeito” para a
Matemática. Esta ideia é tão presente que não é raro ouvir figuras públicas
afirmar sem qualquer sobressalto e até com bonomia que “nunca tiveram jeito
para a Matemática, para os números”. É claro que ninguém se atreve a confessar uma
eventual “falta de jeito” para a Língua Portuguesa e às vezes bem que “parece”.
A mudança deste cenário é uma tarefa para todos nós e não apenas para os professores
e seria importante.
De facto, este tipo de discursos
não pode deixar de contaminar os alunos logo desde o 1º ciclo convencendo-se alguns
que a Matemática vai ser difícil, não vão conseguir ser “bons” e a
desmotivar-se.
Não fica fácil a tarefa dos
professores mas no limite e como sempre será a escola a fazer a diferença. Não
podemos falhar.
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