No Público, a propósito da
iniciativa “Livros a Oeste”, na Lourinhã, aborda-se o interesse e impacto para
as escolas, alunos e professores, e comunidades que poderá ter a realização de
festivais ou encontros literários e presença de autores.
Das opiniões recolhidas,
programadores, editores, professores e professores bibliotecários, emerge algo
consensual, estas iniciativas são úteis e mobilizadores para o estimular contacto com o
livro e a leitura e para o conhecimento dos autores. Uma pequena nota para
salientar que tem vindo a diminuir o número de professores bibliotecários algo
que do meu ponto de vista não me parece justificável com o abaixamento do
número de alunos pois o número de bibliotecas, o espaço de trabalho dos
professores bibliotecários, aumentou.
Também me parece que iniciativas
que aproximem desde muito cedo os alunos das actividades de leitura,
independentemente do suporte e do contexto (familiar ou escolar), são
essenciais na sua formação pessoal e escolar.
Muitos estudos e a experiência
mostram que os hábitos de leitura são pouco consistentes entre as crianças,
adolescentes e jovens como, sem surpresa, também o são entre a população em
geral.
Sabemos ainda o quanto é positivo
que os pais ou outros “mais crescidos” se envolvam com as crianças, mesmo em
idade de jardim-de-infância, em práticas de leitura e de actividades com os
livros para, por exemplo, contar histórias a partir das imagens. Lembro-me de
ouvir o Mestre João dos Santos afirmar que as crianças aprendem a ler desde que
abrem os olhos.
É verdade que os estilos de vida
actuais ou a quantidade de tempo que muitas crianças passam nas instituições
educativas podem minimizar a disponibilidade familiar para este tipo de
actividades depois de dias muito compridos e cansativos para todos.
Também sei que os livros e
materiais desta natureza têm uma concorrência fortíssima com outro tipo de
materiais, jogos ou consolas por exemplo, e que nem sempre é fácil levar as
crianças a outras opções, designadamente aos livros.
Apesar de tudo isto também
sabemos todos que é possível fazer diferente, mesmo que pouco diferente e com
mudanças lentas.
Como várias vezes tenho afirmado
e julgo consensual, a questão central, embora importante, não assenta nos
livros, bibliotecas (escolares ou de outra natureza) ou na presença crescente e
atractiva dos "tablets", a questão central é o LEITOR, ou seja, o
essencial é criar leitores que, quando o forem, procurarão o que ler, livros
por exemplo, espaços ou recursos, biblioteca, casa ou escola e suportes
diferente, papel ou digital.
Creio que também estaremos de
acordo que um leitor se constrói desde o início do processo educativo. Desde
logo assume especial importância o ambiente de literacia familiar e o
envolvimento das famílias neste tipo de situações, através de actividades que
desde a educação pré-escolar e 1º ciclo deveriam, muitas vezes são, estimuladas
e para as quais poderiam ser disponibilizadas aos pais algumas orientações.
Nos primeiros anos de
escolaridade é fundamental uma relação estreita com a leitura, não só com os
aspectos técnicos, por assim dizer, da aprendizagem da leitura e da escrita da
língua portuguesa, mas um contacto estreito e regular com a actividade de
leitura, seja do que for, considerando motivações e culturas diferenciadas
apresentadas pelos alunos.
Só se aprende a ler lendo, só se
aprende a escrever, escrevendo, etc.
Neste contexto, parece
fundamental que construa espaço e tempo para a leitura, para a leitura que não
é colada ao estudo. Acontece que no actual currículo e no tempo que os alunos
estão na escola e da forma como muitas vezes está preenchido, esse tempo para a
leitura não abunda, a motivação não se alimenta e os hábitos de leitura mais
dificilmente se instalam e mantêm. Recordo um estudo conhecido em 2015
realizado na Universidade do Minho que apontava para que 10% dos alunos do
ensino secundário nunca leu um livro até ao fim. Elucidativo.
A relação de muitas crianças com
os materiais de leitura e escrita assentará, provavelmente de forma excessiva,
nos manuais, na aquisição pressionada dos “objectivos” e
"descritores" curriculares e pouco mais apesar do esforço de muitos
professores. Restará o tempo das AECs onde, apesar de algumas experiências
interessantes, também nem sempre se encontram os conteúdos mais adequados, e o
tempo de casa que em muitas famílias, cada vez mais famílias, é curto.
Neste contexto, embora desejasse
muito estar enganado, não é fácil construir miúdos ou adolescentes
leitores que procurem livros em casa, em bibliotecas escolares ou outras e que
usem o "tablet" também para ler e não apenas para uma outra qualquer
actividade do mundo que tornam acessível.
Temos que criar leitores, eles
irão à procura das bibliotecas e dos recursos. As iniciativas que tragam os
autores, os seus livros, as suas histórias para perto dos alunos e das
comunidades fazem parte do caminho.
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