quinta-feira, 11 de maio de 2017

RICOS MENDIGOS

Pode parecer estranha a formulação mas uma das questões que me inquieta no que respeita à vida dos mais novos é a situação de miúdos e adolescentes que vivendo em situações de aparente conforto e bem-estar acabam por se transformar em mendigos.
Existem muitas crianças e adolescentes que têm imensos brinquedos, diria demais, e não têm com quem brincar. Pedem, por isso, companheiros de brincadeira.
Existem crianças e adolescentes com muitos brinquedos e com pouco tempo para brincar. Pedem, por isso, tempo para brincar
Existem crianças e adolescentes cheios de ferramentas de comunicação mas com poucas pessoas com quem, verdadeiramente, comuniquem. Pedem, por isso, gente com quem falar, mesmo.
Existem muitas crianças e jovens com pais sem tempo para ser pais. Pedem, por isso, um tempinho para eles. Não tem que ser muito, só tem que ser para eles.
Existem muitas crianças e jovens que se sentem mal, a aprender e a ser. Pedem, por isso, atenção. Pedir atenção não é o problema, é o sintoma.
Existem muitas crianças e adolescentes que inventam personagens nas quais se escondem. Pedem, por isso, ajuda para os medos que os inquietam.
Existem muitas crianças e adolescentes que são tratados como gente adulta. Pedem, por isso, que as pessoas não se esqueçam de que são miúdos e jovens.
A verdade é que, de facto, há mais gente a mendigar do que pensamos. Acontece que, tal como os mendigos que nos pedem uma moeda, também estes por vezes são transparentes, nem damos por eles.

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