Um dia destes a professora Paula
entrou na biblioteca para apanhar uns livros com que preparar trabalhos e
encontrou o Professor Velho, o que já não dá aulas, está na biblioteca e fala
com os livros.
Olá Paula, tudo bem contigo?
Tudo bem Velho, de volta da preparação das aulas. Dizem que a gente
trabalha pouco mas nem sabem o que a gente faz.
Sempre assim foi. Mas como é óbvio também acham que a escola é
fundamental para os miúdos e somos nós que fazemos a escola, ou seja, dizem mal
de nós e entregam-nos os filhos. Ou não gostam dos filhos ou, no fundo, sabem
que não somos assim maus, só uns pouquinhos que também nos fazem mal a nós.
Tens razão Velho. Já que te encontro pergunto-te o que achas desta
situação. Julgo que sabes, decidimos que aos alunos que se portarem mal damos
um castigo, ficam algum tempo do intervalo numa sala acompanhados de um
professor. No outro dia fiquei com o Filipe, tu conheces o Filipe, porque se
portou mal e foi castigado. Passados alguns dias, ao intervalo, perguntou-me se
podia ir para o castigo. Eu não respondi, achei que ele estava a gozar e fiquei
a pensar sem entender muito bem. Que achas Velho?
Que sabes da vida do Filipe?
É complicada, a mãe nunca está em casa e o pai só lhe liga quando lhe
bate. Os irmãos, são mais velhos, não se dão muito com ele e passa o tempo só.
Que fizeste com ele no castigo?
Fez o TPC, como não era muita coisa e eu tinha algum tempo ficámos de
conversa um bom bocado.
E não estás a perceber porque é que ele te pergunta se pode ir para o
castigo?
Claro Velho, conversar, como é que não percebi logo.
Sabes o que é mais curioso e estranho nesta situação? É um miúdo ter
como castigo algo de que tanto precisa para ser gente.
Sem comentários:
Enviar um comentário