Segundo o JN que chama a questão
para a primeira página existe mais cerca de 200 professores com 60 ou mais anos
(dois com 68) que concorrem no processo de vinculação extraordinária. Os mais
novos candidatos têm 36 anos e são 13.
Trata-se de pessoas, os mais
velhos com décadas de experiência avaliada e candidatam-se agora, nesta fase da
sua vida a um lugar no quadro. É inaceitável pois que lhes tenha sido criada
esta situação pois sempre preencheram transitoriamente necessidades permanente.
Nem sequer vale a pena recordar
as implicações familiares e pessoais no viver de uma carreira com esta
instabilidade.
No entanto, a reposição de um
situação de justiça a que a Comissão Europeia já vinha a instar o Governo
português para que lhe desse solução vem acentuar um outro problema o
envelhecimento da população docente.
Conforme o Relatório “Perfil do
Docente”, divulgado em Julho de 2016 e considerando dados de 14/15 apenas 1.4%
dos docentes que leccionam em escolas públicas têm menos de 30 anos, não chegam
a 500.
Acresce que o grupo etário com
mais de 50 anos é o mais representado, 39.5%. Se a este grupo adicionarmos o
escalão imediatamente anterior, 40 aos 49, temos que 77,3% dos docentes estão
nos dois grupos mais velhos.
Se agora juntarmos o baixo número
de saídas para aposentação e como escrevia há umas semanas, num país preocupado
com o futuro este cenário faria emitir, como agora se usa, um alerta vermelho e
agir em conformidade.
Como é claro o processo de
vinculação extraordinária, apesar da sua justiça e necessidade, certamente
acentuará este cenário.
Como é reconhecido em qualquer
sistema educativo a profissão docente é altamente permeável a situações de
burnout, estado de esgotamento físico e mental provocado pela vida
profissional, associado a baixos níveis de satisfação profissional.
Recordo um estudo recente
realizado pelo Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA-IU) segundo o
qual cerca de 30% dos perto de 1000 professores inquiridos revela risco de
burnout.
Os professores mais velhos, do
ensino secundário ou os que lidam com alunos com necessidades educativas
especiais apresentam níveis mais elevados de burnout e sentem mais a falta de
reconhecimento profissional.
Como causas mais contributivas
para este cenário de stresse profissional são identificadas turmas com elevado
número de alunos, o comportamento indisciplinado e desmotivação dos alunos, a
pressão para os resultados, insatisfação com as condições de desempenho, carga
horária e burocrática, falta de trabalho em equipa, falta de apoio e suporte
das lideranças da escola.
Na verdade, os dados só podem
surpreender quem não conhece o universo das escolas, como acontece com boa
parte dos opinadores que pululam pela comunicação social perorando sobre
educação e sobre os professores. Aliás, esta situação verifica-se noutros
países, sendo que para além dos professores, os profissionais de saúde e de
apoios sociais também integram os grupos profissionais mais sujeitos a stresse
e burnout.
Este quadro é inquietante, uma
população docente envelhecida e a revelar preocupantes sinais de desgaste.
Também se sabe que as oscilações
da demografia discente não explicam a saída de milhares de professores do
sistema, novos e velhos, como também não explicam a escassíssima renovação,
contratação de docentes novos. Sem estranheza, no universo do ensino privado é
bastante superior a presença de docentes mais jovens. Não esqueçamos ainda a
deriva política a que o universo da educação tem estado exposto nas últimas
décadas, criando instabilidade e ruído permanente sem que se perceba um rumo,
um desígnio que potencie o trabalho de alunos, pais e professores. Acresce que
sucessivas equipas ministeriais têm empreendido um empenhado processo de
desvalorização dos professores com impacto evidente no clima das escolas e nas
relações que a comunidade estabelece com estes profissionais
Sabemos que os velhos não sabem
tudo e os novos nem sempre trazem novidade. Mas também sabemos que qualquer
grupo profissional exige renovação pelas mais variadas razões incluindo
emocionais, de suporte, partilha de experiência ou pela diversidade.
As salas de professores são cada
vez mais frequentadas, quando há tempo para isso, por gente envelhecida,
cansada que se sente desvalorizada, pouco apoiada, e que muitas vezes,
demasiadas vezes, pergunta "Quanto tempo é que te falta?"
Na verdade, ser professor é uma
das funções mais bonitas do mundo, ver e ajudar os miúdos a ser gente, mas é
seguramente uma das mais difíceis e que mais respeito e apoio deveria merecer.
Do seu trabalho depende o nosso futuro, tudo passa pela educação e pela escola.
Os sistemas educativos com
melhores resultados são, justamente, os sistemas em que os professores são mais
valorizados, apoiados e reconhecidos.
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