No Público refere-se uma experiência
piloto em desenvolvimento em Coimbra envolvendo o recurso a cães como abordagem terapêutica a crianças com
autismo, cinoterapia. Os resultados, ao que se refere na peça, são animadores.
As notas que em seguida aqui
ficam foram escritas em diferentes ocasiões a propósito de um trabalho
desenvolvido no Porto com póneis, equitação terapêutica, envolvendo crianças e
adultos com deficiência, de um outro trabalho em Miranda do Douro recorrendo a
patos e lontras e também dirigido a pessoas com deficiência e ainda de um outro
em Montemor-o-Velho mas recorrendo a lâmpadas especiais, fosfénicas, para apoio
terapêutico a crianças com dificuldades.
Tenho consciência e assumo que de alguma forma podem ser delicadas mas o muito que que já observei e acompanhei
levam-me a insistir.
Em primeiro lugar não tenho a
menor dúvida sobre a seriedade, competência ou empenho dos profissionais
envolvidos nestas actividades ou outras abordagens que se entendam terapêuticas
e destinadas a pessoas portadoras de deficiência física ou mental ou com
problemas de outra natureza.
Também não duvido que em muitas
circunstâncias as crianças, jovens e adultos que nelas participam registem alterações positivas. Quando pessoas em situação mais
vulnerável recebem atenção, estímulos, apoio e envolvimento, por princípio,
notar-se-á melhoria na sua condição, independentemente da actividade, dentro do
que sejam actividades racionais e aceitáveis com é evidente.
Na verdade, estas notas, embora partam da
referência a estes trabalhos relevam, fundamentalmente, de que nos últimos anos
e no que respeita aos problemas, de diferentes âmbitos e gravidade, que afectam
as crianças e adolescentes, sobretudo mas não só, tem vindo a emergir uma gama
sem fim de abordagens "terapêuticas" da mais variada natureza das
quais, numa espécie de pensamento mágico, se anunciam ou esperam resultados
milagrosos que nem sempre são comprovados com validade científica, embora muita
gente possa "atestar" melhoras que, evidentemente, alimentam o
recurso a esta gama do que eu chamo a "tudoterapia", ou seja, tudo é
terapêutico.
A minha inquietação decorre,
essencialmente, do que acontece com os pais, conheço muitas situações, quando
se envolvem nestas experiências. As suas fragilidades e impotência face aos
problemas que os filhos evidenciam, a vontade inesgotável de tentar ou
experimentar o que estiver ao seu alcance para que os problemas se atenuem ou
desapareçam, leva-os a investirem imenso nessas abordagens que, na verdade, não
são milagrosas e não têm resultados garantidos.
Para além dos custos, da
frustração em caso de insucesso, o mais provável na maior parte da
"tudoterapia", alguns pais podem ainda sentir-se culpados porque, por
exemplo, devido a circunstâncias económicas ou de acessibilidade, não podem
providenciar tais "terapêuticas" aos seus filhos.
A "evolução" que por
vezes se regista em algumas situações, pode dever-se, por exemplo, a um efeito
placebo, a uma maior atenção estímulo proporcionado à criança ou adolescente e
não decorrer das propriedades terapêuticas do procedimento, para as quais, como
referi, não existe nas mais das vezes, validade científica .
Neste cenário, os técnicos têm um papel fundamental, embora difícil, de contenção das angústia e necessidades dos pais e no sentido de procederema a abordagens sérias e realistas sobre os objectivos, limites e resultados esperados das intervenções disponíveis, ajudando e orientando as famílias nas escolhas e decisões.
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Neste cenário, os técnicos têm um papel fundamental, embora difícil, de contenção das angústia e necessidades dos pais e no sentido de procederema a abordagens sérias e realistas sobre os objectivos, limites e resultados esperados das intervenções disponíveis, ajudando e orientando as famílias nas escolhas e decisões.
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