Ao que se lê no Público, Andreas
Schleicher, o director do Departamento de Educação e Competências da OCDE,
citou o exemplo do ME de ouvir os alunos sobre o universo das políticas
educativas numa iniciativa a que chama “A voz dos alunos”. Se bem se recordam o
ME organizou em Novembro em Leiria um encontro que reuniu alunos do ensino
básico e secundário sobre temáticas como “O que aprendemos? Como aprendemos
melhor? O que distingue os professores que constituem referências para nós? O
que retemos do que aprendemos? Como utilizamos o que aprendemos? O que (não)
mudaríamos na escola?”. Hoje realiza-se novo encontro.
De acordo com os relatos, os
alunos apresentaram questões como aulas mais práticas, mais debates, mais
trabalho colaborativo, mas saídas da escola, diversificação das opções de escolha
das disciplinas no secundário, mais actividades ligadas às expressões, mais conteúdos
ligados à cidadania, maior ligação com a prática, promoção do espírito crítico,
turmas mais pequenas, professores motivados e que não desistam dos alunos.
Não tenho um entendimento idealizado ou
romântico do “diálogo” e do “ouvir os alunos” mas creio que importará, de
facto, ouvir os alunos, todos os alunos, com real interesse no seu olhar e ideias sobre a sua
vida escolar.
Achei, portanto, uma iniciativa
positiva.
A propósito de ouvir os alunos, recordo
que há algum tempo participei num conjunto de conversas com alunos do 2º e 3º ciclo em que se discutia
o que era essa coisa de ser um bom professor.
A maioria dos alunos envolvia-se
activamente e a continuidade das referências levou à identificação de uma
resposta que se poderia sintetizar na ideia de que "bom professor é o que
fala com a gente e explica bem".
Este entendimento lembrou-me,
cito-o aqui frequentemente, o Mestre João dos Santos quando afirmava que alguém
tinha sido seu professor "porque foi seu amigo".
De facto, o sucesso dos processos
de ensinar e aprender assenta em dois eixos fundamentais, a qualidade do
ensinar e a relação entre quem ensina e quem aprende. Do meu ponto de vista, a
grande maioria dos professores estará equipada sobre o ensinar. A grande
questão é que a nossa escola, de uma forma geral, não facilita a relação. Esta
dificuldade decorre, fundamentalmente, da organização dos tempos lectivos, da
natureza e extensão dos conteúdos curriculares das diferentes e muitas
disciplinas, da crescente pressão para resultados tangíveis, o número crescente
de alunos por turmas e do número de turmas leccionado por muitos professores,
de um ensino demasiado assente no manual, etc. para além, naturalmente, das
concepções de alguns professores.
Os professores, muitos
professores, sentem-se "escravos" do programa que tem de ser dado e
do pouco tempo disponível para construção da relação que na verdade se torna
muito difícil.
Muitas vezes digo que os
professores "falam" para o programa, para o explicar, e os alunos
"falam" para o programa para o aprender. Não falam entre si sendo
que, além disso, existe um grupo significativo de alunos que, por diversas
razões como dificuldades ou desmotivação ou associadas a variáveis de contexto,
não conseguem "falar" com o programa. Para estes, os professores
vêem-se obrigados a falar, sobretudo para controlar os seus (maus)
comportamentos.
Também por estas razões, continuo
a entender como necessária uma mudança mais significativa na organização dos
tempos da escola e dos conteúdos curriculares que tornassem mais fácil podermos
ouvir os alunos dizer, "a gente tem bons professores porque explicam bem e
falam com a gente".
Esta ideia não tem nada de
romântico nem de utópico, assenta em algo de muito simples, a educação
constrói-se com a relação que se alimenta com a comunicação.
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