O calendário das consciências
determina que o dia 25 de Maio como o Dia Internacional da Criança
Desaparecida. Assim sendo, algumas notas sobre este inquietante universo.
Ao que parece e felizmente estão
a registar-se em Portugal menos casos de crianças e adolescentes desaparecidos.
No entanto, e em termos mais globais a tragédia que envolve o desaparecimento
de crianças no âmbito da crise dos refugiados assume proporções alarmantes e
que são uma acusação fortíssima à mediocridade das lideranças mundiais
A maioria das situações de
desaparecimento de crianças em Portugal tem um final positivo, o
desaparecimento é temporário e uma reacção a incidentes pessoais ou a
resultados escolares. Lamentavelmente,
nem sempre os processos decorrem assim, recordemos as tragédias mais
mediatizadas que envolveram o Rui Pedro desaparecido há 16 anos em Lousada no
norte de Portugal e a Maddie McCann em 2007 no Algarve, dos quais nada se sabe
sobre o que lhes terá acontecido.
De há uns anos para cá tem sido
feito um esforço nacional e internacional no sentido de aumentar a eficácia na
abordagem a situações desta natureza bem como dedicar maior atenção aos
factores de risco de que a título de exemplo se citam as redes sociais, que não
podendo, obviamente, ser diabolizadas, apresentam alguns riscos que não devem
ser negligenciados.
Merece ainda registo o aumento
significativo de crianças desaparecidas através do rapto parental em contexto
de separações familiares com algo grau de litígio e que, evidentemente,
implicam enorme sofrimento para todos os envolvidos, em particular para os mais
vulneráveis, as crianças.
Situações como as do Rui Pedro ou
da Maddie McCann são absolutamente devastadoras numa família. Nós, pais, não
estamos "programados" para sobreviver aos nossos filhos, é quase
"contra-natura". Se a este cenário acresce a ausência física de um
corpo que, por um lado, testemunhe a tragédia da morte mas, simultaneamente,
permita o desenvolvimento de um processo de luto, a elaboração da perda como
referem os especialistas, que, tanto quanto possível, sustente alguma reparação
e equilíbrio psicológico e afectivo na vida familiar, a situação é de uma
violência inimaginável.
No entanto e neste contexto,
creio que é também muito importante não esquecer a existência de muitas
crianças que estão desaparecidas mas que, por estranho que possa parecer, estão
à vista. São situações que por desatenção e menos carga dramática passam mais
despercebidas.
Na verdade, existem muitíssimas
crianças e jovens que vivem à beira de pais e professores, de nós, e passam
completamente despercebidas, são as que designo por crianças transparentes,
olhamos para elas, através delas, como se não existissem. As razões são muitas e as mais vulneráveis tornam-se mais transparentes. Não estando
desaparecidas, estão abandonadas. Algumas delas não possuem ferramentas
interiores para lidar com tal abandono e desaparecem, mantendo-se à nossa
vista, no primeiro buraco que a vida lhes proporcionar, um ecrã, outros
companheiros tão abandonados quanto eles, o consumo de algo que lhes faça
companhia ou a adrenalina de quem nada tem para perder.
Em boa parte das situações, por
estes ninguém procura.
E alguns, por vezes, também se
perdem de vez.
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