Como o povo diz, o que nasce
torto tarde ou nunca se endireita. É o caso da narrativa recente sobre os exames e as provas de aferição.
Os que acompanham este espaço e o
que penso sobre a educação sabem que entendo como indispensável a avaliação
externa como também sabem que não me parece que essa a avaliação externa deva
ser realizada através de exames, sobretudo no 1º ciclo.
Apesar deste entendimento
recordarão que discordei da oportunidade e conteúdo da decisão de acabar com os
exames finais do 1ºe 2º ciclos e a introdução das provas de aferição em anos
intermédios2º, 5º e 8 anos. Não cumprem o que se espera de uma prova de
“aferição”, são mais uma prova externa de diagnóstico a meio de um trajecto de
ciclo o que, evidentemente, não é uma aferição.
Recordarão ainda que manifestei
várias vezes a estranheza pela ausência do calendário de avaliação quando
estamos a terminar o segundo período.
Depois, ao parece em entendimento
como o Presidente da República, definiu que as provas de aferição não serão
obrigatórias para este ano sendo as escolas a decidir se as realizam ou não.
O ME estabeleceu ainda que, se
assim o entenderem, as escolas também podem realizar os exames finais de 4ºe 6º
ano que foram abolidos. Como disse na altura esta deriva não serve o interesse
da qualidade e serenidade do trabalho de alunos e professores.
A devolução às escolas da decisão
de realizarem ou não as provas de aferição este ano bem como os finados exames
do 4º e 6º causa perplexidade.
Os finados exames são “bons” ou
não? A decisão de os abolir foi justificada (com algumas razões que me merecem
concordância) pela sua “dispensabilidade”, para ser simpático. No entanto se as
escolas quiserem podem realizá-los. Como?! Então passam a uma boa ferramenta
educativa?!
Atribuir às escolas a decisão
relativa às provas que realizam em nome da autonomia é algo patético e um
fingimento de autonomia na medida em que se estabelece que a regra é
transitória. Para o ano tudo é obrigatório (já haverá tempo para preparar) e …
acaba-se a autonomia.
Dá para entender?
Não, não poderia ter acontecido
assim.
Para finalizar, num exemplo muito
interessante de “gentle policy”, a Secretária de Estado Adjunta e da Educação,
Alexandra Leitão, hoje no Parlamento afirmou que “O Ministério da Educação tem uma preferência para que estas se realizem, mas entende que, por razões ponderosas, as escolas possam não o fazer”.
Repito, este processo não podia
ter sido assim.
2 comentários:
Até costumo gostar dos seus textos, mas hoje não podia discordar mais. Estive a seguir o debate no canal parlamento e a notícia do Público não é minimamente fiel. O que está a acontecer e todos estranham é haver um ministério que ouve os professores. Aliás, pena é que a comunicação que o secretário de Estado fez ontem em Coimbra aos diretores não seja pública ou que não haja registo dela.
Há um olhar novo sobre a escola, esclarecido e que não se compagina com a gritaria que o Público gosta de empolar.
Olá Madalena, obrigado pelo comentário. Na verdade, escrevi a propósito do que li pois não ouvi. No entanto, dado que tem acompanhado o que escrevo sabe que tenho uma opinião favorável às alterações introduzidas. Discordo dos timings, das provas aferidas a meio do ciclo, (como disse e creio que concordará, aferir resultados é no fim de período de aprendizagem e não no meio, isso é o papel da avaliação mais diagnóstica ou formativa). Também acho muito discutível dizer que as escolas realizam este ano as provas se entenderem por bem em nome da sua autonomia e para o ano tudo passa a obrigatório. É estranho, pois se se entende que as escolas devem ter autonomia este ano porque não mantê-la? Não me parece que faça sentido.
Quanto à necessidade de ouvir os professores não posso estar mais de acordo, sobretudo depois da negrura de Maria de Lurdes Rodrigues e de Nuno Crato.
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