No mesmo dia, certamente por coincidência, dois trabalhos na imprensa referem-se à questão da qualificação de nível superior, área em que, como já tenho referido, se têm estabelecido alguns equívocos.
O CM coloca em primeira página o facto de a Alemanha estar a desenvolver algumas iniciativas no sentido de atrair jovens licenciados de Portugal e Espanha que possam minimizar as suas necessidades de mão de obra qualificada. Como é óbvio, a Alemanha não tem uma taxa de licenciados inferior à nossa, tem é um nível de desenvolvimento do mercado de trabalho que exige qualificação. Assim, percebe-se que o discurso frequente sobre o "país de doutores", com licenciados a mais é um erro crasso, Temos na verdade desequilíbrio na oferta, mas não temos qualificação a mais, temos, isso sim, desenvolvimento a menos. Esta é que é a verdadeira questão.
Por outro lado, o Público aborda o crescimento exponencial da frequência dos nossos estabelecimentos de ensino superior por estudantes estrangeiros ao abrigo de diferentes programas de apoio à mobilidade. Esta situação é interessante por várias razões. Em primeiro lugar, podemos entender esta procura como um sinal da qualidade do nosso ensino superior percebida além fronteiras. É também interessante que muitos estudantes que nos procuram para a sua formação vislumbram uma oportunidade de acesso aos mercados de trabalho do mundo lusófono, designadamente no Brasil, uma das economias emergentes. Acontece que muitos destes jovens, à excepção dos que vêm dos PALOP, são oriundos de países com taxas mais altas de formação no ensino superior que a nossa e não desistem de procurar essa formação, no caso em Portugal. Fazem-no por uma razão muito simples, a importância que sabem ter para o seu projecto de vida uma qualificação profissional de bom nível o que remete, de novo, para a necessidade de se evitar discursos como o do "doutores a mais" que desincentivam os jovens e as famílias de procurar qualificação superior.
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