A campanha eleitoral em curso tem sido marcada pela mediocridade, quer de discursos quer de conteúdos, o que, do meu ponto de vista, não é estranho. O contrário sê-lo-ia. Até mesmo Fernando Nobre, figura prestigiada e fora dos aparelhos partidários, que poderia trazer algo de novo, rapidamente deixou envelhecer o seu discurso.
Um aspecto muito referenciado tem sido a propriedade da pobreza. Todos os candidatos se têm reclamado donos da pobreza e da preocupação com a exclusão. As razões variam entre ter vivenciado zonas de catástrofe e assistido à luta entre galinhas e humanos pelo acesso à comida, um passado operário, a superioridade moral porque sim, ou o patrocínio de uma campanha de aproveitamento das sobras alimentares de restaurantes para minimizar carências.
Ontem assistimos a mais um episódio lamentável desta narrativa. Durante aquilo a que se chama uma arruada, Cavaco Silva, claramente um peixe fora de água nestes contextos, ao ser interpelado por uma velhota por ter uma reforma baixa, respondeu que a mulher dele também só tem 800€ de reforma e que depende dele que tem de trabalhar para a ajudar. Por acaso não referiu a imoralidade da acumulação de pensões e vencimentos.
Como o episódio foi espontâneo e não estava por perto nenhum indispensável assessor de imagem que compusesse a resposta, o Presidente disse exactamente o que pensa e como pensa. É sempre bom ouvir o que é genuíno.
Não sei o que a velhota terá pensado, seria engraçado ter-lhe perguntado, mas eu entendo que há palavras proibidas. Em nome do respeito e da dignidade.
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