Os dados ontem divulgados pelo IEFP sobre o desemprego voltaram a merecer da generalidade da imprensa um tratamento que do meu ponto de vista merece reflexão. Foram produzidos vários títulos sublinhando o desemprego entre licenciados o que pode passar a mensagem errada. É certo que foi neste grupo que o desemprego mais aumentou no último ano, subiu 11,3%. Entre Dezembro de 2009 e Dezembro de 2010 o número de pessoas com curso superior inscritos nos centros de emprego subiu para 49 800, mais cinco mil que há um ano num universo global de 541 840 desempregados. No entanto, uma primeira nota que quero sublinhar, em relação a Novembro verificou-se uma redução de 3,8% neste grupo.
A questão que me parece central e que me parece sempre de acentuar é que, primeiro, os jovens licenciados não estão no desemprego por serem licenciados, estão no desemprego porque temos um mercado pouco desenvolvido e ainda insuficientemente exigente de mão de obra qualificada e estão no desemprego porque, por desresponsabilização da tutela, a oferta de formação do ensino superior é completamente enviesada distorcendo o equilíbrio entre a oferta e a procura como muitas vezes afirmo. Muitas empresas, sobretudo as de menor dimensão (as que mais emprego asseguram), provavelmente também devido ao baixo nível de qualificação dos empresários (um dos mais baixos da UE), parecem mais avessas à contratação de mão de obra qualificada.
Por outro lado, se atentarmos em dados da OCDE e do INE sabemos que um trabalhador licenciado ganha em média mais 80% que alguém com o ensino secundário. Um indivíduo com a escolaridade básica recebe em média menos 57% que alguém com o Ensino Secundário. Apenas 7.5% de pessoas com o 9º ano recebem duas vezes mais que a média nacional enquanto licenciados a receber duas vezes mais que a média são quase 60%. Os filhos de pais licenciados têm 3,2 vezes mais probabilidades de obter uma licenciatura. Entre os 25 e os 34 anos, 19% dos jovens tem uma licenciatura enquanto na OCDE a média é 32%. Em Portugal, o número de licenciados é metade da média da União Europeia. Na franja entre os 35 e 44 anos a percentagem ainda baixa para 13%. Um indivíduo com apenas o básico corre um risco de pobreza 20 vezes superior ao de um indivíduo com um curso superior.
Deste quadro releva a absoluta imprudência de passar a mensagem de que a formação é irrelevante, o desemprego é o destino.
A qualificação profissional, de nível superior ou não, é essencial como também é essencial a racionalidade e regulação da oferta do ensino superior.
Como sempre que abordo estas matérias finalizo com a necessidade de que uma vez por todas evitar o discurso "populista" do país de doutores que é um enorme erro e que pode desincentivar a busca por qualificação o que terá consequências gravíssimas.
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