quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

À DERIVA

Sugere o bom senso e qualquer manual básico de ciência política que um dos requisitos para a tomada de decisões políticas, sobretudo nas que podem implicar alterações na vida do cidadão, é a sua adequada justificação para que os envolvidos, embora possam não concordar, conheçam, pelo menos, a justificação. Um outro requisito é a coerência e eficácia da decisão e do processo consequente para que com o mínimo sobressalto se operacionalize a mudança.
As equipas que têm vindo nas últimas décadas a ocupar a 5 de Outubro, fruto de algum desconhecida e misteriosa causa, parecem afectadas pelo sindroma da deriva. Instalam-se e começam a tomar decisões, algumas compreensíveis e bem intencionadas, outras completamente incompetentes e indefensáveis. As medidas aparecem sem coerência, reagindo a aspectos particulares e dispersos, com insuficiente análise de adequação, eficácia e impacto, criando ruído, turbulência e problemas que o universo da educação tem que baste.
O último dos múltiplos episódios que ilustram esta deriva reactiva e voluntarista da actua equipa do ME prende-se com as diferentes propostas que em poucos dias aparecem a enquadrar o Desporto Escolar na organização da actividade docente e no funcionamento das escolas. Uma primeira proposta conhecida é completamente insustentável e, naturalmente, foi reprovada por unanimidade no Conselho de Escolas e alguns dias depois surge uma nova proposta a alterar a anterior e a colocar esta vertente, o Desporto Escolar, sob "regulamentação própria", mais uma regulamentação própria, que sustenta a burocracia e a complexidade inibidoras de eficácia.
Os efeitos desta deriva no clima das escolas, na imagem social dos professores, na imagem social do Ministério e na imagem social da educação no seu conjunto, a que já me tenho referido, não sendo tangíveis, têm efeitos devastadores na percepção dos alunos e das famílias e dificultam seriamente o desenvolvimento de um trabalho educativo de professores, alunos e pais com a qualidade que o futuro exige.

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