domingo, 16 de janeiro de 2011

BOLONHA, O PECADO ORIGINAL

Desde o início tenho afirmado que o processo de reforma no ensino superior mais conhecido pela "Reforma de Bolonha" radicou mais em questões económicas, o financiamento o ensino superior, que de natureza científica, curricular ou de mobilidade envolvendo estudantes e professores. O encurtamento do chamado grau de licenciatura para três anos e a criação do 2º ciclo, o grau de mestrado, possibilitou que na grande maioria dos cursos passassem a ser as propinas dos alunos a financiar o 2º ciclo com custos elevadíssimos em muitos estabelecimentos de ensino superior.
Tal decisão, sobretudo a atribuição do grau de licenciatura a uma formação de três anos, gerou, como não podia deixar de ser um enorme equívoco que só por má fé ou incompetência não foi antecipado aquando da decisão. O equívoco foi criar a situação em que pessoas com formações de natureza superior com a mesma duração, cinco anos, realizadas na mesma instituição, possam ter grau de licenciado ou de mestrado consoante a data em que finalizam os estudos. Para além disso, ainda temos os detentores do grau de mestre obtido antes da bolonhesa ideia que pedalaram cinco anos de licenciatura e mais dois ou três anos de trabalho de um programa de mestrado para acederem ao grau de mestre. Para ruído não está mal.
As implicações que esta matéria tem no que respeita à inscrição nas ordens profissionais são uma outra consequência que deriva do seu peso corporativo e do controlo da entrada no mercado de trabalho, exclusiva aos elementos aceites pelas ordens.
Neste contexto parece natural a movimentação, quer de licenciados com cinco anos de formação no sentido de acederem, sem mais, ao grau de mestre, como, nas actuais circunstâncias de constrangimentos actuais, das próprias instituições de ensino superior que verão nestes processos mais uma fonte de rendimento, serão uns largos milhares de licenciados a realizar os procedimentos que as universidades vão determinar para nivelar a formação com os mestres que Bolonha fez nascer.
Em síntese, não fossem as questões económicas, não teria sido necessário designar por licenciatura o 1º ciclo de três anos, o pecado original, e a questão agora em andamento não se colocaria.

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