Há algumas semanas o Presidente da República afirmou que a educação deveria ser um desígnio nacional assumido por todos. Disse ainda que a educação é uma pedra fundamental do nosso desenvolvimento, que a qualificação é imprescindível, que devemos mobilizar todos os meios ao nosso alcance, que é necessário proteger as crianças dos efeitos da crise, etc. etc., ou seja, a retórica do costume. Não foi certamente a primeira vez que um responsável político fez uma afirmação desta natureza, é, aliás, um discurso recorrente e repetido com insistência.
Alguns tempo depois ouvimos Hoje, cabe a vez aos dirigentes sindicais da FENPROF e da FNE de fazer um apelo a "um consenso nacional sobre educação" com base num amplo debate sobre os estado da educação e no sentido de evitar as derivas políticas que caracterizam o sistema.
Hoje é o Primeiro-ministro a decretar que a “educação é o grande projecto para Portugal” a propósito do processo de requalificação das escolas. Estranha afirmação vinda de quem tem subscrito medidas de política educativa que comprometem a qualidade do trabalho desenvolvido nas comunidades educativas e envolvendo professores, alunos e pais.
Para além disto, que não é pouco, todos estes actores sabem que na cultura e praxis política que temos tal “desígnio”, “consenso” ou “grande projecto” são impossíveis, ou quase impossível, A partidocracia instalada leva a que, na generalidade das matérias, os interesses partidários se sobreponham aos interesses gerais, a conflitualidade que sendo importante e muitas vezes estimulante e promotora de mudança, é assente em corporações de interesses e clientelas que inibem a definição de rumos e de perspectivas que visem o interesse geral. O Presidente, os dirigentes sindicais e o Primeiro-ministro sabem-no bem, fazem parte do sistema, pelo que os seus discursos se inscrevem no próprio funcionamento do sistema e que conduz ao que temos e as alternativas prováveis não são particularmente animadoras.
No universo mais particular da educação, devido ao peso e impacto social do sector, é ainda mais óbvio a presença de interesses antagónicos que decorrem bem mais dos interesses da partidocracia do que a verdadeira preocupação com a qualidade dos processos educativos. Se atentarmos nos discursos habituais dos que se movem neste universo com alguma responsabilidade fica óbvia esta realidade.
Gostava de poder ter um discurso mais optimista, mas muito provavelmente continuaremos a assistir à continuidade da deriva e do digladiar de interesses partidários, promovendo política pequena onde era imprescindível política grande.
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