sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

A CANCELA

Quando era miúdo, o meu pai, como todos os pais, ia balizando o que se podia ou não fazer e como. Hoje chamar-se-ia estabelecer regras e limites.
Nesse trabalho diário de pai a expressão que mais utilizava era qualquer coisa como "não saltes a cancela", sendo a cancela, naturalmente, qualquer coisa que não deveria ser feita ou regra que não deveria ser infringida. Como está bem de ver, umas vezes por outras "pulava-se a cancela" e lá vinha, quando se era descoberto, a respectiva consequência, reprimenda, castigo ou, mais raramente, alguma palmada que deixava assim uma espécie de calor que ardia sem se ver.
Hoje, através de um contacto regular com pais e a observação da forma com muitos miúdos funcionam parece que, com demasiada frequência, os pais não identificam e estabelecem com clareza as cancelas da vida dos miúdos que, obviamente, variam com a idade. O que me parece mais significativo é sentir que muitos pais apesar de perceberem que os comportamentos e atitudes dos miúdos não são os mais desejados, sentem-se incapazes e inseguros para com a firmeza necessária definir as cancelas e, manter, com a flexibilidade que o bom senso dita, a consistência das decisões.
É fundamental que se entenda, que os pais entendam, que tanto quanto comer e dormir, os miúdos precisam das cancelas na sua vida. São essa cancelas que lhes regulam os comportamentos, que os ajudam a crescer de forma saudável e a saber tomar conta de si.
De resto e como educar com valores não é a mesma coisa que educar para a santidade, de vez em quando, as cancelas também se podem pular, dá gozo.

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