No Público de hoje regista-se a evolução significativa do número de pais que nos últimos anos têm vindo a recorrer à licença parental. De facto, a passagem de 0,6% de 2008 aos 16% de pais que em 2010 partilharam a licença parental com as mães é uma subida importante.
Tal situação, parece, dever-se-á a alterações legais e a uma eventual e gradual mudança nos valores que, devagarinho, vai retirando às mães o exclusivo da prestação de cuidados aos bebés.
No entanto, em matéria de parentalidade e organização e distribuição dos papéis familiares parece-me de considerar alguns aspectos que já aqui tenho abordado a situação das mulheres (mães) que trabalham, ou querem trabalhar.
As mulheres portuguesas são das que, em termos europeus, mais tempo trabalham fora de casa. Além disso, não pode esquecer-se a discriminação salarial de que muitas mulheres, sobretudo em áreas de menor qualificação, são ainda alvo e a forma como a legislação laboral e a sua “flexibilização” as deixam mais desprotegidas. São conhecidas muitas histórias sobre casos de entrevistas de selecção em que se inquirirem as mulheres sobre a intenção de ter filhos, sobre casos de implicações laborais negativas por gravidez e maternidade, sobre situações em que as mulheres são pressionadas para não usarem a licença de maternidade até ao limite, etc.
Neste quadro, apesar dos quadros legais mais favoráveis a realidade acaba por condicionar fortemente os desejos e projectos das famílias, quer na sua organização, quer mesmo na decisão, em desuso, de ter filhos. Mas isto é uma outra questão.
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