A propósito da atribuição do prémio de treinador do ano a José Mourinho, merecido do meu ponto de vista embora não nutra especial simpatia pelo seu estilo, multiplicam-se as referências ao efeito que tal prémio terá na auto-estima dos portugueses.
Muitas vezes aqui me tenho referido a algumas das dimensões de natureza mais psicológica que estão presentes e influenciam a nossa vida colectiva, para além, é óbvio, da vivência individual. Exemplo destas dimensões serão por exemplo falta de esperança, a descrença ou desconfiança, etc.
Assim e no que se refere à auto-estima, também os especialistas entendem a importância de uma percepção positiva de nós próprios, bem como de sentirmos confiança na nossa capacidade de realização.
Numa altura em que se discute e admite a probabilidade muito forte de que o FMI venha por aí a dentro colocar em ordem, a ordem deles, aquilo que durante décadas conseguimos desregular por aposta em modelos errados e más decisões do ponto de vista político, parece-me oportuna também a referência à nossa auto-estima. Não seremos capazes de tomar conta de nós e de liderarmos a gestão dos nossos problemas ainda que num quadro de cooperação internacional?
Pelos vistos não e isto é que me parece atingir a nossa auto-estima.
Por outro lado, ainda a propósito de auto-estima, seria bom não esquecer que nunca como nos últimos tempos tivemos tanta produção científica portuguesa premiada fora, bem como recordar prémios internacionais também atribuídos a portugueses na área da cultura.
Finalmente, sublinhava que a minha auto-estima enquanto português ficaria bem mais positiva com a elevação dos padrões éticos do comportamento das elites políticas e económicas, com um combate sério e eficaz às desigualdades sociais e à exclusão, com um sistema de justiça efectivamente justo e eficaz, com a promoção de uma verdadeira cultura de protecção do bem-estar dos miúdos, etc., etc.
3 comentários:
O problema da auto-estima em Portugal é uma das feridas mais visíveis remanescentes do antigo regime. Não é um problema crónico mas, um estigma bem enraizado na nossa cultura de considerarmos-nos inferiores aos nossos vizinhos da Europa e outros vultos mais marcantes do mundo ocidental. Existe uma corrente de pensamento político mais à esquerda, que através de um discurso mais populista, negativista contrário ao sistema, sublimina no inconsciente colectivo um conjunto de pseudo-ideias difusas, que causam sentimentos contrários e estereotipados.
Percebo a ideia de radicar também a questão da auto-estima no que poderíamos chamar de atraso estrutural advindo de um sistema fechado, pouco escolarizado e sempre dependente do que vem de fora. Claro que os discursos populistas e negativistas alimentam a nossa percepção de confiança, mas esses discursos são transversais, variam da esquerda à direita.
Concordo plenamente mas, em Portugal os extremos radicais são mais representativos à esquerda, visto que à direita é bastante residual e, não tem grande expressão nos media e no quotidiano social. Houve em tempos recentes, alguns epi-fenómenos com pouca expressão na opinião pública. Quanto à esquerda é mais expressivo, dado que tem mais direito de antena e está representada na Assembleia. O que por si só é benéfico, porque afasta as hipóteses mais radicais com tendências anárquicas que são mais comuns nos países do norte da Europa. No entanto, a ideia contrária ao sistema foi sempre considerada de certa maneira como um pecado venial na sociedade e, em certos momentos uma virtude para alguns, como se verificou nos tempos de explosão revolucionária pós-25 de Abril. Tudo isto, deriva de uma certa onda conjuntural da História e, felizmente, para mim estamos bastante bem para os tempos que correm, olhando o exemplo da Grécia e Irlanda vítimas do flagelo desta crise. É um bom sinal de evolução civilizacional!
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