quarta-feira, 11 de agosto de 2010

OS INDEPENDENTES. DE QUÊ?

Como será evidente, qualquer cidadão gosta de se afirmar como independente, querendo com isto dizer, que é capaz de ter uma visão ou perspectiva pessoal sobre qualquer matéria. É importante para nós sentirmos e acreditarmos nessa capacidade, nesse estatuto de independência. Sabemos também que esta, continuemos a chamar-lhe independência, em bom rigor dificilmente existirá, a nossa perspectiva sobre o que está à nossa volta depende sempre da gestão dos interesses envolvidos, por mais subjectivos ou irrelevantes do ponto de vista colectivo que possam ser esses interesses. Por exemplo, dificilmente eu serei “independente” a olhar para um jogo de futebol em que participe o meu clube do qual aliás, nem sequer sou sócio, embora durma perfeitamente tranquilo quando perde.
Sabemos também que a partidocracia instalada em Portugal tornou os partidos donos da democracia e inibe a participação cívica de cidadãos fora dos aparelhos partidários.
Neste quadro, entende-se mal que cidadãos militantes partidários que por qualquer razão vêem romper-se a sua ligação com o partido, assumam, com toda a legitimidade, vida política afirmando-se “independentes” e continuem a manter o vínculo formal ao partido, situação que tem acontecido em diferentes partidos e que agora parece levar à expulsão de Narciso Miranda e de outros "independentes". A decisão de concorrer a umas eleições fora do aparelho do partido em que se militava deveria ser acompanhada pela desvinculação formal do partido podendo, assim, reclamar o estatuto de “independente” que, como disse acima, tenho dificuldade de entender, sobretudo em política. No entanto como sabeis, os políticos também são uns fingidores, até fingem de independentes.
Mais uma vez não me parece um bom serviço prestado à democracia. A iniciativa de um militante partidário concorrer a eleições contra o seu partido é, no mínimo, estranho e de difícil enquadramento em ética política.

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