domingo, 29 de agosto de 2010

A GORDURA QUE NÃO É FORMOSURA

Há uns meses atrás, a propósito da questão da obesidade infantil e o aumento exponencial de casos de diabetes tipo II em crianças, relatei aqui no Atenta Inquietude a cena de um extremoso pai que, ao meu lado, proporcionava a uma criancinha com 8 ou 9 anos um pequeno almoço composto de três salgados e uma lata de cola. Curiosamente esse texto despertou algumas reacções vindas, creio, de algumas pessoas que entendem que qualquer discurso ou iniciativa no âmbito dos comportamentos configuram uma intromissão e desrespeito dos direitos individuais. Insisto na necessidade de iniciativas e discursos que promovam comportamentos mais saudáveis sobretudo quando se trata de crianças que são obviamente mais vulneráveis e desinformadas. O Público de hoje levanta a questão de que a negligência dos pais com os comportamentos alimentares das crianças possa configurar uma situação de maus-tratos parentais susceptível, no limite, da inibição do exercício da parentalidade.
Como é óbvio, torna-se necessário equilíbrio e bom senso na análise destas questões que frequentemente radicam em culturas e hábitos enraizados e não são representados como tão negativos como começam a ser considerados. Isto não se destina a desculpar ou branquear responsabilidades parentais mas a sugerir ponderação.
Segundo dados da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade, entre os 2 e os 5 anos, 27,4 dos rapazes e 30,8% das raparigas estão em situação de pré-obesidade ou obesidade. Na faixa etária entre os 11 e os 15 anos a percentagem é de 28,6 para os rapazes e 27,8 para as raparigas. Em adultos e sem surpresa os números pioram, 50% dos homens e 30% das mulheres estarão em situação de pré-obesidade ou obesidade o que também ajuda a explicar a atitude para com as crianças.
As consequências potenciais deste quadro em termos de saúde e qualidade de vida são muito significativas, quer em termos individuais, quer em termos sociais. Assim, e como já tenho referido no Atenta Inquietude, um problema de saúde pública desta dimensão e impacto justifica a definição de programas de prevenção, educação e remediação que o combatam, que me parece ser o eixo central da abordagem a esta questões.
Provavelmente, teremos algumas reacções contra o chamado “fundamentalismo nos hábitos individuais” mas creio que são também de ponderar as implicações colectivas e sociais do problema. Além de que todos nós sabemos que o excesso de peso não será, para a esmagadora maioria das pessoas nessa situação, uma escolha individual, é algo de que não gostam e sofrem, de diferentes formas, com isso.

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