quinta-feira, 19 de agosto de 2010

CRÓNICAS DA PRAIA - O papagaio

Já é raro, mas na praia ainda aparecem os papagaios, sobretudo nos dias com mais vento. Estou a falar dos papagaios de papel. São bonitos e é pena que se tenha abandonado o seu uso apesar de existirem uma versões sofisticadas que tornam tudo mais fácil. A propósito da crónica de ontem sobre as actividades de férias dos miúdos, talvez construir e lançar papagaios fosse algo que de que os miúdos gostassem e que habitualmente não dá em tempo de aulas. Felizmente, hoje, não recorrendo à compra, a construção seria bem mais fácil, no meu tempo de gaiato era uma aventura que aprendi com o meu pai.
Embora tenha feito alguns até com papel de jornal, os mais bonitos, também mais caros, levavam papel de seda às cores. Para a estrutura do papagaio era preciso ir a um canavial e escolher umas canas fininhas que cuidadosamente se abriam ao meio para que ficassem ainda mais leves. Com as canas e com fio de sapateiro, ia pedir umas pontas ao Sr. Fernando Sapateiro de quem aqui já falei, construía-se a estrutura do papagaio que podia ter diferentes formas. Depois vinha a parte mais difícil, colar as folhas de papel na estrutura do papagaio. Quando era tempo para isso, usávamos "cola de damasqueiro", uma cola excelente feita com umas secreções da casca dos damasqueiros que misturadas com água produziam uma cola de boa qualidade e muito importante, barata. Quando não era o tempo, recorríamos à velha cola de farinha, água misturada com farinha fazendo uma pasta que também era a mais usada para colar os cromos das colecções nas respectivas cadernetas.
O papagaio estava quase pronto, levava um rabo que ajudava a equilibrá-lo no ar feito com um cordel e laços de papel nele dispostos. Atava-se o papagaio no novelo de fio de nylon ou cordel, quando não havia o mais fino nylon, e lá íamos. Para lançar o papagaio eram precisos, pelo menos dois, um segurava no "aparelho" e o outro, sempre um companheiro rápido de pernas, a uns metros segurava a corda. Ao sinal, começava a corrida, o lançamento do papagaio que, devo dizer, nem sempre voava à primeira. Lá recomeçava o lançamento até conseguirmos aquela magia de ter o papagaio bem alto, cheio de cores a voar, horas.
E a gente voava com ele.

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