No sábado à tarde, depois de uma lida mais pesada pela quentura do meu Alentejo, arrancar cebolas e amanhar uns caminhos no monte não é coisa leve, eu e o Velho Marrafa poisámos debaixo da pimenteira para as lérias do fim do dia temperadas com umas cervejas.
Comentávamos como o trabalho fica pesado quando o calor está mais bravo e Velho Marrafa contou-me, ele gosta de contar histórias, de uma empreitada em que ele a mulher e o sogro se envolveram quando ainda tinha casado há pouco tempo e procurava "jogar-se" ao que podia para fazer uns amanhos na casita.
O trabalho era carregar fados que estavam numa herdade lá para os lados de Torre dos Coelheiros. A herdade tão tinha tractor que içasse os fardos para cima da "rolota" (o atrelado de carga do tractor) e o Velho Marrafa tomou conta da empreitada de carregar os fardos todos para serem armazenados. A mulher e o sogro estavam em cima da "rolota" e iam arrumando os fardos que o Velho Marrafa levantava do chão com um forcado, uma forquilha de duas pontas, para cima do atrelado.
Esta empreitada veio à conversa porque sendo pagos ao fardo, que tinha por volta de 50 kg cada, saíam de casa ainda de noite e trabalhavam até ficar escuro. Faziam umas quatro carradas de 200 fardos cada. Acresce que este trabalho se fez, foi essa a lembrança, com um calor que até no Alentejo se estranhava ou, como dizia o Velho Marrafa, estava mesmo áspero.
No fim, da história e da cerveja, o Velho Marrafa, com o ar de sempre dizia, "Sr. Zé, sem trabalho nada se faz, nada se tem. Amanhei a casa, sem a empreitada dos fardos não conseguia".
Mas esta é uma história antiga, do tempo em que os fardos eram mais pesados de carregar.
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