quinta-feira, 15 de outubro de 2009

O RISCO DE INSUCESSO ESCOLAR

Um notável trabalho desenvolvido pela EPIS, Empresários pela Inclusão Social, que inquiriu 20 000 alunos do 7º e 8º anos, conclui que um em cada três está em risco sério de insucesso escolar. Merece muita atenção este trabalho divulgado no I.
Estes números assustadores vêm confirmar que o militante optimismo estatístico do ME não tem, infelizmente, bases sustentáveis e que, portanto, continuaremos confrontados com um fortíssimo problema ao nível do sucesso educativo, ou seja, do futuro.
O trabalho da EPIS sobre os riscos do insucesso e as suas causas, para além de identificar aquilo que neste âmbito é de esperar, questões económicas, disfunções familiares, por exemplo, vem mostrar uma dimensão que é muitas vezes desvalorizada na opinião publicada sobre esta matéria e que algumas pessoas, entre as quais me incluo, sistematicamente apontam como de urgente atenção e ponderação, isto é, a forma como os miúdos se percebem a si próprios e às suas capacidades. Esta percepção de si, que genericamente se refere como auto-estima, tem um poderosíssimo efeito na definição da relação mais ou menos positiva que os alunos estabelecem com a escola, com a aprendizagem e na criação de confiança para construir um projecto de vida. De acordo com o estudo, “cerca de 80% dos alunos diz que o problema não está nos professores e as maiores dificuldades prendem-se com questões de auto-estima”. Não cabe aqui uma abordagem às potenciais ameaças à auto-estima sentidas por estes alunos, mas são de natureza variada. Nesta perspectiva, é fundamental o desenvolvimento de dispositivos de apoio que mais do que centrados em actividades de natureza exclusivamente académica, se direccionem para a pessoa e não só para o aluno. É neste sentido que o projecto da EPIS, ao recorrer à figura de um mediador entre o aluno e o contexto educativo, está a caminhar, a avaliação divulgada mostra isso mesmo, no bom sentido.
Finalmente, ainda uma referência ao que o trabalho também sublinha e que faz parte do meu discurso habitual sobre estas questões. A educação, mesmo a educação escolar, não é um problema exclusivo de pais e professores, o excelente trabalho da EPIS prova-o. Como dizem os africanos, “para fazer uma casa bastam quatro homens, para educar uma criança é preciso uma aldeia”.

4 comentários:

MFerrer disse...

Onde podemos ler esse notável trabalho da EPIS?
A amostra de 20.000 alunos foi tomada em que universo?
Que escolas foram visitadas?
Foram escolhidas escolas onde a média de abandono corresponde à média nacional dos últimos dois anos? Qual a repartição geográfica do estudo?
É que eu conheço escolas públicas onde, a par de um certo grau de sucesso escolar, não há praticamente abandono e até tem havido recuperação da população escolar, incluindo a dos adultos...
Podemos sempre fazer escolhas que permitam conclusões perniciosas ao sistema e nomeadamente se estivermos a dias da escolha de um novo ministro da Educação e a sermos bombardeados com "estudos" de rankings e de "análises" da validade do Ensino Público".
Interessante questão esta se metermos na mesma panela - desculpe o populismo - a suspensão da "horrível" avaliação dos professores que se preparam para, à sombra da mais irracional "esquerda" e da direita revanchista e desesperada, trinchar o gordo perú do Orçamento da Educação.
Ao invés de aplaudirmos qualquer coisa que desanime tudo e todos talvez fosse altura para olharmos para os exemplos positivos.
e olhe que o ensino privado está uma lástima e a um preço que só visto!
MFerrer

Anónimo disse...

Hââââ??? Não meta politiquices aqui. Isto é um sítio sério. O ensino em Portugal é de fraca qualidade em última análise, ponto.
Não gosta desta verdade?

Zé Morgado disse...

Caro MFerrer,
Posso não ter sido claro, mas a minha grande questão é a defesa da qualidade a escola pública. O trabalho da EPIS não me parece fazer apologia do privado mas alertar para o que sabemos acontecer. Felizmente, como diz, existe um trabalho notável na maioria das escolas. No entanto, os números do insucesso e do abandono são ainda terrivelmente altos e essa é a luta que nos espera a todos. Creio que concorda comigo.

Mferrer disse...

Caro Zé Morgado,
Como continuo sem conhecer esse tal trabalho da EPIS, fico na minha.
Claro que não me passaria pela cabeça achar que defende os privilégios e os priviligiados.
Ou a Escola só para quem pode pagar. Não se trata do seu caso.
Veja lá como o chapéu serviu ao anónimo que acha que a política deve ser servida ...despolitizada.
Haja paciência que vem aí muito chumbo grosso, e não é chumbo escolar. Antes fosse!
Mas obrigado pela sua resposta.
MFerrer