quinta-feira, 1 de outubro de 2009

UM RAPAZ CHAMADO O TAL

Era uma vez um rapaz chamado O Tal. Na escola onde andava, há já quatro anos, era extremamente conhecido, pelos alunos, pelos professores e funcionários e até por alguns pais de outros alunos. As opiniões dividiam-se, uns gostavam do O Tal, outros nem por isso, muitos detestavam-no, mas todos o conheciam.
O Tal tinha um comportamento que não passava despercebido o que contribuía, naturalmente, para ser tão popular. Em muitas encrencas no recreio ou em qualquer outra cena mais agitada O Tal aparecia envolvido, directa ou indirectamente. Até acontecia que, mesmo quando O Tal era completamente alheio ao incidente, as pessoas sempre o associavam à situação. Poucos professores tinham algum interesse pelo O Tal e a maioria desejava que não fizesse parte das suas turmas. Entre os colegas, muitos gostavam dele porque fazia umas tropelias com que eles gozavam, se divertiam, e andavam por perto sempre na expectativa da próxima façanha do O Tal.
O Tal habituou-se tão fortemente a este funcionamento que se organizava para corresponder ao que toda a gente aprendeu a esperar da sua parte. O Tal já não era um rapaz, era um personagem que ele desempenhava muito bem, aliás, era mesmo aquilo que melhor fazia na vida.
Ninguém sabia que muitas vezes antes de dormir, O Tal pensava em si e sentia-se só, muito só, e com muitas saudades de quando era apenas um Rapaz, ainda não era O Tal. Mas, no dia seguinte voltava a vestir a pele do personagem e era de novo O Tal, que, de mansinho, ia entristecendo para dentro, de solidão.

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