Numa das minhas estadias mais prolongadas em Moçambique, no âmbito das quais já aqui tenho partilhado algumas histórias, tive o enorme privilégio de ter a companhia diária de um companheiro admirável, o Velho Malangatana, o pintor. Quando temos a bênção de privar com figuras desta dimensão sentimo-nos pequeninos e elas parecem ainda maiores que aquilo que imaginamos. O Mestre, como eu chamo às pessoas de que gosto muito e respeito, apesar de ser naturalmente conhecido como pintor, tem obra poética publicada, canta lindamente, dança e é um contador de histórias que vence o tempo. Recordo com muita saudade vários serões à fogueira em Matalana com histórias e cantigas a que volto com frequência, sobretudo quando me sinto zangado com o mundo.
Hoje, queria contar uma pequenina história dessa viagem. Saía com o Mestre do Piri-Piri em Maputo, sede de vários jantares e muitas horas de conversa com muitos amigos, quando fui abordado por um grupo de crianças, algumas vivem na rua, os molwenes como lhes chamam e de que eu aqui já falei, que vendiam artesanato, um mais artístico que outro. O Mestre Malangatana vindo um pouco mais atrás, depois de ser efusivamente saudado pelos miúdos, volta-se para eles e diz-lhes, “não enganem este branco, o Zé Morgado é meu amigo”. Os miúdos protestaram que não queriam enganar-me e com alguma surpresa, um deles mais velhito aproximou-se para me oferecer um dos batiques que vendia. Perante o meu embaraço na aceitação, disse-me com um sorriso maior que a cara, “sou eu que faço, também me chamo Morgado”. É verdade, o batique estava assinado com um visível e inesperado “Morgado”. Hoje, já passados alguns anos, o batique do Morgado de Maputo ocupa um lugar de relevo na minha casa, na minha cabeça e no meu coração.
Mas de maior relevo ainda, é o lugar de Malangatana, um Mestre.
Hoje, queria contar uma pequenina história dessa viagem. Saía com o Mestre do Piri-Piri em Maputo, sede de vários jantares e muitas horas de conversa com muitos amigos, quando fui abordado por um grupo de crianças, algumas vivem na rua, os molwenes como lhes chamam e de que eu aqui já falei, que vendiam artesanato, um mais artístico que outro. O Mestre Malangatana vindo um pouco mais atrás, depois de ser efusivamente saudado pelos miúdos, volta-se para eles e diz-lhes, “não enganem este branco, o Zé Morgado é meu amigo”. Os miúdos protestaram que não queriam enganar-me e com alguma surpresa, um deles mais velhito aproximou-se para me oferecer um dos batiques que vendia. Perante o meu embaraço na aceitação, disse-me com um sorriso maior que a cara, “sou eu que faço, também me chamo Morgado”. É verdade, o batique estava assinado com um visível e inesperado “Morgado”. Hoje, já passados alguns anos, o batique do Morgado de Maputo ocupa um lugar de relevo na minha casa, na minha cabeça e no meu coração.
Mas de maior relevo ainda, é o lugar de Malangatana, um Mestre.
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