quarta-feira, 16 de setembro de 2009

GEOMETRIA VARIÁVEL

Com alguma regularidade emergem na criativa terminologia política algumas expressões que acabam por se fixar nos discursos e adquirir a extraordinária capacidade de para tudo servirem. Um dos bons exemplos destas expressões é a famosa “geometria variável” que continua a fascinar-me.
Os valores em política são de geometria variável. Isto significa se pode defender um conjunto de valores e o seu oposto de acordo com os contextuais interesses políticos. O mesmo se passa com as ideias, são de geometria variável, ou seja, no governo defende-se uma ideia ou um projecto e quando se passa a oposição assume-se a posição contrária. O cenário político actual é fértil em exemplos desta geometria variável. Muitos de nós face aos comportamentos e atitudes também nos colocamos numa postura de geometria variável. Se somos nós a desempenhar esses comportamentos ou a evidenciar determinadas atitudes, estamos obviamente certos, pelo contrário, outra pessoa que faça ou pense o mesmo está, naturalmente, errada.
O nosso país ainda se caracteriza por uma excessiva e insustentável assimetria na distribuição social da riqueza, trata-se de mais um caso de geometria variável. O tratamento dado pelo sistema de justiça não é, frequentemente justo e defensor da igualdade dos cidadãos perante a lei o que se explica, provavelmente, por, claro, os procedimentos processuais e legislativos serem de geometria variável.
Na actual campanha eleitoral, a contínua construção de cenários, alianças à direita ou à esquerda, o “eu disse isso mas queria dizer aquilo”, o “mas já defendeu e agora não defende”, etc., continuam a mostrar como corremos o risco de ficar com geometria variável, ou seja, desculpem a deselegante crueza, sem espinha.

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