Apesar da minha proximidade ao
mundo da educação e ao mundo da escola e sendo também por várias razões utilizador
diário da “net”, confesso que foi com alguma estranheza que soube pela imprensa
de hoje da existência de milhares de páginas, incluindo vídeos no Youtube, com
conselhos sobre formas de conseguir encontrar “desculpas” para faltar às aulas.
Encontram-se materiais como "5
desculpas para faltar a aula" ou "10 Desculpas para não ir à
Escola" que em conjunto somam 13 milhões de visitas.
É possível aprender “simular
febre, enxaqueca, dores de estômago, náuseas e cólicas, mas também diarreia,
vómitos ou uma erupção cutânea.” Notável.
Sem dramatizar creio que é um
sinal que nos merece reflexão.
Leva-me a recordar umas notas de
há algum tempo quando me convidaram para participar num evento com o tema “Fugir
para a escola”
Seria muito interessante, mas não
passa, provavelmente, de um romantismo não compatível com a dureza crispada,
agressiva e feia, dos tempos e da vida actual, imaginar que os miúdos quisessem
fugir para a escola, não porque fugissem de algo mau, o contexto familiar, por
exemplo, e que em bom rigor e lamentavelmente é por vezes tão mau que obriga a
fugir, mas porque os miúdos quisessem correr para a escola por nela se sentirem
bem.
É verdade que para a maioria dos
miúdos a estadia na escola é positiva, no aprender, no ser e no gostar. No
entanto, para alguns outros a escola é um lugar de onde apetece fugir e muitos
destes acabam por fugir da escola ou sentirem-se empurrados para fora.
Serão estes os que recorrem aos
conselhos sobre a for de encontrar uma desculpa para não ir à escola?
As escolas vão construindo muros
cada vez mais altos e mais fortes. Nunca sei muito bem qual a verdadeira função
dos muros da escola, impedir que os miúdos saiam ou impedir que os miúdos
entrem. Acho que os muros da escola conseguem ambas, o que parece estranho.
Por outro lado, nos tempos que
correm também muitos professores, bons professores, mostram por cansaço ou
desesperança que já não fogem para a escola, um lugar de realização, de
trabalho duro mas com uma das maiores compensações que se pode ter, ajudar gente pequena a ser
gente grande.
O clima institucional, a
burocracia, a deriva política vão levando a que a escola não apeteça, foge-se
ou é-se empurrado para fora, apesar dos muros altos. Felizmente, muitos outros
professores ainda conseguem fugir para escola, os alunos desses professores são
miúdos com sorte.
No entanto, também sabemos que
muitos professores, um número demasiado elevado, se encontram mal, em situação
de exaustão e cansaço, à procura de algo que lhes permita, tal como aos
miúdos, não ir à escola.
Que andamos a fazer com a educação, com a escola, connosco?
Será que ficou mesmo impossível
acreditar que os miúdos e os professores, de uma forma geral, queiram fugir
para escola?
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