O habitat pantanoso continua a
incubar e fazer eclodir episódios de corrupção, desculpem, alegada corrupção e
delinquência económica. O ritmo de conhecimento destas situações é regular e assustador.
A roda livre de impunidade e
incumprimento dos mais elementares princípios éticos quando não da lei,
produziu nas últimas décadas uma família alargada que, à sombra dos aparelhos
partidários e através de percursos políticos, se movimentam num tráfego intenso
entre cargos, entidades e empresas públicas e entidades privadas, promovendo
frequentemente negócios que nos insultam e, frequentemente, empobrecem.
Esta família alargada envolve
gente de vários quadrantes sociais e políticos com uma característica comum, os
negócios, alguns obscuros, de natureza multifacetada e de escala variável,
desde o jeitinho para o emprego para o amigo até aos negócios de muitos
milhões.
Acontece ainda e isto tem tido
efeitos devastadores que muitos dos negócios que esta família vai realizando
envolve com frequência dinheiros públicos e com pesados encargos para os
contribuintes.
Esta família conta ainda com a
cooperação de um sistema de justiça talhado à sua medida pelo que raramente se
assiste a alguma consequência significativa decorrente dos negócios da família.
Curiosamente mas sem surpresa, todos os membros desta família, destes grupos,
quando questionados sobre os seus negócios ou envolvimento em algo, afirmam,
invariavelmente que tudo é feito tudo dentro da lei, nada de incorrecto e,
portanto, estão sempre de consciência tranquila.
Alguém poderia explicar a esta
gente que, primeiro, não somos parvos e, segundo, o que quer dizer consciência.
É verdade que está sempre
presente nos discursos partidários, sobretudo à entrada de cada novo governo, a
retórica que sustenta o fingimento da luta contra a corrupção e a promoção da
transparência na vida política portuguesa e, regularmente, emergem umas tímidas
propostas que mascaram essa retórica, entram na agenda e rapidamente
desaparecem até ao próximo fingimento.
Do meu ponto de vista, nenhum dos
partidos do chamado “arco do poder”, está verdadeiramente interessado na
alteração da situação actual, o que, aliás, pode ser comprovado pelas práticas
desenvolvidas enquanto poder. A questão, do meu ponto de vista, é mais grave.
Os partidos, insisto no plural, mais do que não querer mexer seriamente na
questão da corrupção e do seu financiamento, não podem e vejamos porque não
podem.
Nas últimas décadas, temos vindo
a assistir à emergência de lideranças políticas que, salvo honrosas excepções,
são de uma mediocridade notável. Temos uma partidocracia instalada que
determina um jogo de influências e uma gestão cuidada dos aparelhos partidários
donde são, quase que exclusivamente, recrutados os dirigentes da enorme máquina
da administração pública e instituições e entidades sob tutela do estado. Esta
teia associa-se à intervenção privada sobretudo nos domínios, e são muitos, em
que existem interesses em ligação com o estado, a banca e as obras públicas ou
mesmo o futebol são apenas exemplos. Os últimos tempos têm sido particularmente
estimulantes nesta matéria.
A manutenção deste quadro, que
nenhum partido está evidentemente interessado em alterar, exige um quadro
legislativo adequadamente preparado no parlamento e uma actividade reguladora e
fiscalizadora pouco eficaz ou, utilizando um eufemismo, “flexível”. Assim, a
sobrevivência dos partidos, tal como estão, exige a manutenção da situação
existente pelo que, de facto, não podem alterá-la. Quando muito e para nos
convencer de que estão interessados, introduzem algumas mudanças irrelevantes e
acessórias sem, obviamente, mexer no essencial. Seria um suicídio para muita da
nossa classe política e para os milhares de boys de diferentes cores que se têm
alimentado, e alimentam do sistema.
O combate à corrupção, parece,
assim, um problema complicado. De quem faz parte do problema, é difícil esperar
a solução.
Assim vão os dias desta pantanosa
pátria nossa amada.
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