A imprensa divulgou a proposta de
Organização do Calendário Escolar para o próximo ano lectivo.
Mais uma vez teremos um ano lectivo com enorme desequilíbrio na duração dos períodos escolares, os dois primeiros períodos muito extensos e um terceiro mais uma vez
curtíssimo até à entrada no período de avaliações. A dependência do período de
interrupção lectiva de uma festa religiosa móvel, a Páscoa, condiciona
fortemente o calendário criando regularmente esta situação que é obviamente
pouco amigável para o trabalho de professores e alunos.
Também por esta razão a
Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas sustenta a
ideia que já havia divulgado em Junho de 2016 no sentido de que a organização
do ano lectivo deveria ser em dois semestres e não em três períodos como
actualmente. A proposta, afirmam, minimizaria os efeitos das assimetrias de
duração entre os períodos, seria positiva para a organização das escolas e a
existência de dois intervalos de avaliação dos alunos é mais positiva em termos
escolares que o modelo actual.
Julgo e também já o tenho
afirmado que esta questão deveria ser repensada. Aliás, os tempos da escola
justificariam ser globalmente repensados.
Se bem se recordam o blogue
ComRegras promoveu em 2016 um inquérito dirigido a directores de escolas e agrupamentos
no qual 54.1% dos 181 directores que responderam concorda que o ano escolar
seja organizado em dois semestres e não nos habituais três períodos de aulas.
Como já tenho referido, não tenho
uma posição fechada e fundamentada sobre as eventuais vantagens sendo certo que
existem outros sistemas em que se verifica o modelo semestral.
No entanto, creio que mesmo numa
organização em três períodos a situação que suscita mais dúvidas é o desequilíbrio
que frequentemente se verifica na duração dos períodos e que se repete de forma
muito evidente no próximo ano lectivo.
Parece claro que esta situação
não é a mais adequada e julgo ser de considerar um modelo semestral embora
mesmo no modelo actual e sabendo que não é fácil mudar a tradição, mudar nunca
é fácil, talvez fosse de tentar que o calendário escolar não esteja colado a
festividades móveis.
No entanto, creio que vale a pena
reflectir nestas matérias, ouvindo a participação dos vários actores, estudando
experiências de outros sistemas e, eventualmente, de uma forma tranquila,
oportuna no tempo, repensar o calendário escolar.
Nesta reflexão deveria estar
incluída a discussão dos benefícios e eventuais efeitos negativos da criação de
uma “pausa” a meio do primeiro período (ou de cada semestre) modelo existente
em vários países.
Creio mesmo que seria desejável
que pudéssemos reflectir de forma global para os tempos da escola considerando
outros aspectos.
Num país com as nossas condições
climáticas, tal como genericamente no sul da Europa, e considerando boa parte
do nosso parque escolar, aulas prolongadas até ao Verão seriam algo de,
literalmente, sufocante.
A Confap tem defendido onze meses
de actividade na escola. Sendo a guarda das crianças um problema sério e que
reconheço, também entendo que não pode ser resolvido prolongando até ao
“infinito”, a infeliz ideia de “Escola a Tempo Inteiro”, a estadia dos alunos
na escola. A “overdose” é sempre algo de pouco saudável.
No que respeita aos tempos
escolares, os alunos portugueses, sobretudo no início da escolaridade tem umas
das mais elevadas cargas horárias. Como bem se sabe, mais horas de trabalho não
significam melhor trabalho e os alunos portugueses já passam um tempo enorme na
escola. Talvez seja de introduzir nesta equação a variável “áreas disciplinares
e currículos”, considerando o número de áreas ou disciplinas, conteúdos,
organização de anos e de ciclos, etc.
Neste contexto, insisto, seria desejável reflectir sobre os tempos da escola.
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