No Público de ontem referiam-se dados do Eurostat relativos a 2017 segundo os quais os jovens portugueses abandonam
a casa dos pais cerca dos 29.2 anos em média.
A este propósito recordo que
em Janeiro a Caritas divulgou um
Relatório sobre Portugal “Os jovens na Europa precisam de um futuro!” no qual
caracteriza a dificuldade dos jovens portugueses em construir projectos de vida
autónomos e positivos.
Nesse trabalho são identificados
como dimensões críticas a dificuldade em aceder a trabalho digno, a
precariedade laboral, os custos elevados da educação e qualificação e os
elevados custos no acesso, renda ou compra, de habitação.
Este cenário ajuda a perceber
algumas das mais fortes razões pelas quais os jovens em Portugal abandonam a
casa dos pais em média aos 29,2 anos e a
tendência é de que tal aconteça cada vez mais tarde. Como é habitual nos países
nórdicos verifica-se a saída mais precoce, cerca dos 21anos e no sul da Europa
estão os países com a saída mais tardia e nos quais se inclui Portugal. Como já
referi, para além das questões de natureza cultural e de valores que importa
considerar bem como as políticas de família nos países do norte da Europa, as
actuais circunstâncias de vida dos jovens sustentam este cenário que
provavelmente demorará a ser revertido.
Segundo o INE e considerando o
primeiro trimestre de 2017, existiriam em Portugal cerca de 175 mil jovens
entre os 15 e os 29 anos que não estudam, nem trabalham, a geração “nem,
nem" ou, na terminologia em inglês os jovens NEET (Not in Education,
Employment or Training).
Destes, estima-se que perto de 67
mil não estão inscritos nos centros de emprego. São números impressionantes.
Parece importante assinalar que
esta situação afecta sobretudo jovens com menos qualificações e mulheres, o que
também não é novo. A exclusão escolar é quase sempre a primeira etapa da
exclusão social.
Por outro lado, bem mais de 100
000 jovens, sobretudo qualificados, têm vindo a sair do país, emigrando para
outras paragens em busca de uma futuro que por cá não vislumbram.
A estes indicadores já
profundamente inquietantes deve juntar-se os dados sobre precariedade, abuso do
recurso a estágios e outras modalidades de aproveitamento de mão-de-obra barata
e a prática de vencimentos que mais parecem subsídios de sobrevivência mesmo
para jovens altamente qualificados.
Esta situação complexa e de
difícil ultrapassagem tem obviamente sérias repercussões nos projectos de vida
das gerações que estão a bater à porta da vida activa. Entre outras,
contar-se-ão, os dados hoje conhecidos mostram-no, o retardar da saída de casa
dos pais por dificuldade no acesso a condições de aquisição ou aluguer de
habitação própria ou o adiar de projectos de paternidade e maternidade que por
sua vez se repercutem no inverno demográfico que atravessamos e que é uma forte
preocupação no que respeita à sustentabilidade dos sistemas sociais. As
gerações mais novas que experimentam enormes dificuldades na entrada sustentada
na vida activa, vão também, muito provavelmente, conhecer sérias dificuldades
no fim da sua carreira profissional.
No entanto, um efeito muito
significativo mas menos tangível desta precariedade no emprego, é a promoção de
uma dimensão psicológica de precariedade face à própria vida no seu todo e que,
com alguma frequência, os discursos das lideranças políticas acentuam. Dito de
outra maneira, pode instalar-se, está a instalar-se nos jovens, uma
desesperança que desmotiva e faz desistir da luta por um projecto de vida de
que se não vislumbra saída mobilizadora e que recompense.
O aconchego da casa dos pais pode
ser a escapatória para a sobrevivência.
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