Desta vez o choque e o horror
aconteceram em Santa Fé, Texas. Pelo menos oito pessoas morreram em mais um
tiroteio numa escola secundária sendo que o número de vítimas pode subir. Ao
que parece, os responsáveis, já detidos, são alunos da escola.
Acrescenta-se assim mais um marco
trágico num a um caminho que já vai longo, demasiado e brutalmente longo.
Recorde-se alguns dos mais brutais, Parkland, em Fevereiro deste ano, Columbine
(1999), Virgina Tech (2007), ou Sandy Hook (2012) .
Em cada momento desta trágica
natureza invade-nos um sentimento de perplexidade. Porquê?
Acontecem com regularidade
episódios desta natureza ainda que alguns com menor gravidade. Para além dos
episódios que referi nos Estados Unidos também a Noruega, França ou Finlândia
assistiram a grandes tragédias.
Em alguns casos, lembro-me, por
exemplo, dos distúrbios de há uns anos em Inglaterra em que os comportamentos
observados assemelhavam-se grotescamente a um videojogo violento com personagens
reais.
Também em Portugal se têm
verificado alguns casos de violência extrema envolvendo jovens, apesar de
terem, felizmente, efeitos menos trágicos, levando-nos a questionar os nossos
valores, modelos educativos, códigos e leis pela perplexidade que nos causam.
Esta perplexidade exige a
necessidade de tentarmos perceber um processo que designo como "incubação
do mal" que se instala nas pessoas, muitas vezes logo na infância e
adolescência, a partir de situações de mal-estar que podem passar relativamente
despercebidas mas que insidiosamente começam a ganhar um peso interior
insuportável cuja descarga apenas precisa de um gatilho, de uma oportunidade.
A fase seguinte pode passar por
duas vias, uma mais optimista em que alguma actividade, socialmente positiva,
possa drenar esse mal-estar, nessa altura já desregulação de valores, ódio e
agressividade, ou, a outra via, aumenta exponencialmente o risco de um pico que
pode ser um tiroteio numa escola ou noutro espaço público, a bomba
meticulosamente e obsessivamente preparada ou uma investida contra alguém
arriscando a entrada numa espiral de violência cheia de "adrenalina",
em nome de coisa nenhuma a não ser de um "mal-estar" que destrói
valores e gente. O jovem envolvido neste episódio era reconhecidamente um jovem
que “incubava o mal” pelos testemunhos conhecidos e, aparentemente, foi deixado
entregue a si e ao seu mal-estar.
É evidente que a punição e a
detenção constituírem um importante sinal de combate à sensação de impunidade
perigosamente presente na nossa comunidade mas é minha forte convicção de que
só punir e prender não basta.
Assim, sabendo que prevenção e
programas comunitários e de integração têm custos, importa ponderar entre o que
custa prevenir e os custos posteriores da violência, da delinquência continuada
e da insegurança.
Importa ainda estratégias mais
proactivas e eficientes de minimizar a guetização e "quase total"
desocupação de, em Portugal, centenas de milhares de elementos da geração
"nem, nem" nem estuda, nem trabalha. Para esta gente, o futuro passa
por onde, por quem e porquê?
Finalmente, a importância de uma
precoce e permanente atenção às pessoas, ao seu bem-estar, tentando detectar,
tanto quanto possível, sinais que indiciem o risco de enveredar por um caminho
que se percebe como começa, mas nunca se sabe como acaba.
Nos Estados Unidos, na Noruega,
na França, na Alemanha, ... ou em Portugal.
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