É verdade, também existe uma
iniciativa mundial designada por “Dia de Aulas ao Ar Livre” que pelo terceiro
ano também em Portugal é assinalado. Segundo o Observador, de pois de no ano
passado se terem envolvido cerca de 40 000 alunos em actividades ao ar livre
como ia de aulas, estima-se que hoje perto de 60 000 possam experiências
dessa natureza.
É um caminho que me parece de
registar e que vai sendo percorrido.
Recordo de aqui ter referido em
Fevereiro de 2017 um projecto que envolvia vários Jardins de Infância de
Coimbra e estruturas de ensino superior com o objectivo de levar as crianças a
brincar no exterior, na mata do Choupal, qualquer que seja o tempo. As poças,
as árvores ou os trilhos com lama, são equipamentos educativos. Não conheço o
desenvolvimento do projecto mas espero que tenha tido continuidade.
De facto, muitas vezes aqui tenho
referido a importância das actividades ao ar livre que deveriam ser uma rotina
e não uma excepção na educação formal e não formal dos mais novos.
Somos dos países da Europa em que
adultos e crianças menos desenvolvem actividades no exterior contrariamente,
por exemplo ao que se verifica nos países nórdicos. É verdade que esses países
têm habitualmente climas bastante mais amenos que o nosso mas, ainda assim,
poderíamos ter durante mais tempo crianças e adultos a realizar actividades no
exterior. O Estudo do Meio poderia também por regra ser … no meio.
Estão de há muito identificadas as
vantagens de diferentes naturezas que estas actividades trazem às crianças e
também aos adultos, não vale a pena repetir.
Recordo umas notas a partir de
uma cena a que assisti e que já aqui contei.
Num fim de tarde em que fazia uma
caminhada num espaço verde muito grande e bonito que existe perto de casa e passei
por um grupo familiar. Deu para perceber que uma gaiata pequenina vinha
descalça ao colo do pai e pedia para que ele a pusesse no chão relvado. Ouvi o
pai dizer que não se pode andar descalço, para ela não ser teimosa porque se
quis descalçar e agora tinha que ir ao colo. Para convencer a criança,
falava-lhe, cito dos "bichos que estão no chão”, da “quantidade de doenças
que apanharia de andar na relva descalça" e mais que entretanto já não
ouvi. Reparei ainda que a criança vinha a comer qualquer coisa que ia retirando
de um pacote.
É notável, aquele pai revelava
uma enorme preocupação com os riscos gravíssimos de andar descalço num relvado
bem tratado e, habitualmente, sem a visita dos cães e achava aparentemente,
natural a criança comer qualquer coisa hipercalórica certamente muito perto da
hora de jantar.
Esta atitude ilustra algo que
entre nós está muito presente, um aparente discurso de preocupação que, embora
se perceba, eu diria excessiva, com muitas das actividades que as crianças
podem, eu diria devem, fazer e, ao mesmo tempo, somos frequentemente
negligentes com aspectos verdadeiramente graves de que cito como exemplos o
enorme número de acidentes domésticos com crianças ou a obesidade infantil que
já é um problema sério de saúde pública.
Muitas vezes, estes pais que
protegem tanto as crianças dos riscos de andar descalço, por exemplo, estão
também entre os que descansam, no seu entendimento, quando as crianças estão
"livres de riscos" no quarto, sós, trancadas num ecrã.
Deixem lá os putos andar
descalços e rebolar na relva. E já agora juntem-se a eles. Faz bem a todos.
Finalmente, ainda uma chamada de
atenção para duas peças muito interessantes sobre estas questões expressas por
dois especialistas.
A primeira, uma entrevista ao
pediatra Pedro Oom a propósito do seu livro, “Infectário”. A segunda, também
uma entrevista ao investigador Brett Finlay, co-autor do livro “Deixe-os Comer
Terra”. Em ambas as entrevistas se sublinha a importância de repensar a nossa
acção educativa muito marcada pela inibição de experiências e actividades
importantes a vários níveis para o desenvolvimento e bem-estar das crianças.
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