quinta-feira, 13 de novembro de 2008

DE TANTO TER, NÃO TÊM NADA

Um excelente trabalho do Público de hoje sobre as actividades de tempos livres dos miúdos em Portugal merece algumas notas.
Os dados referidos não são novos, já os comentámos aqui e sublinhamos apenas que as crianças portuguesas são as que mais usam a televisão nos tempos livres e das que menos recorrem a actividades de ar livre. Neste tipo de actividades, ar livre, é curioso referir que os maiores utilizadores são as crianças nórdicas, o que se deverá, provavelmente ao ameno e convidativo clima para actividades de ar livre.
A minha reflexão é um bocadinho mais radical, as crianças portuguesas, pura e simplesmente, não brincam. Não estou a falar das excepções, estou a falar da regra. Os miúdos levantam-se cedíssimo, acabam o último sono no banco de trás do carro do pai, ou na carrinha escolar, intoxicam-se de escola e de actividades de natureza escolar até ao fim da tarde, voltam aos bancos de trás do carro ou da carrinha, chegam tarde a casa e entre a novela, o banho, o jantar e, para muitos, algum trabalho de casa, gastam a última energia disponível antes da deita e de novo dia. Quando sozinhas, mesmo com os pais ao lado, aconchegam-se a um ecrã, este, pelo menos, não manda fazer nada. Pelo meio, muitos ainda são “convidados” a realizar actividades óptimas e que fazem um bem extraordinário ao seu desenvolvimento e os tornam montes de inteligentes e montes de criativos e montes de confiantes. Aos fins-de-semana fazem com os papás a ronda pelos centros comerciais. Os papás compram o consentimento e companhia dos miúdos com mais um jogo para a consola e, no fim, preparam-se para mais uma semana igual a todas as outras. As semanas dos putos que de tanto terem, não têm nada.

1 comentário:

Anónimo disse...

Lido com moços e moças da faculdade e alguns deles parecem que estão a viver uma segunda infância agora com a ajuda do psicólogo.

Abraço
A.C.