As incidências deploráveis do caso que envolve Isaltino Morais, bem como todo a questão da Madeira com as insultuosas afirmações de Alberto João, cuja impunidade já atinge uma dimensão difícil de entender e aceitar, obrigam-me a pensar num “lembrete” da imprensa de hoje, Portugal tem, por imposição da “troika”, um mês para apresentar um plano contra a fraude e a evasão fiscal, faces de uma questão mais vasta, a corrupção.
Parece de relembrar que segundo o último relatório da Transparency International, Portugal é um dos 21 países em que existe "pouca ou nenhuma implementação" da Convenção anti-corrupção da OCDE. Considerando ainda os últimos indicadores do Barómetro Global da Corrupção, também no âmbito da Transparency International, 83% dos portugueses acham que piorou a questão da corrupção e 75% não acredita na eficácia do combate.
Apenas mais um dado, a economia paralela representa cerca de 24% do PIB português, facto que, do meu ponto de vista, não deve ser desligado do fenómeno da corrupção.
Este outro lado da economia que envolve desde a fuga de capitais para paraísos "off-shore", à habilidade individual da ausência de recibo no dia-a-dia, está completamente enraizado, é apenas uma questão de escala.
Este funcionamento quase que faz parte da nossa cultura, a do "dar um jeitinho", "fazer uma atençãozinha" ou arranjar “um esquema”. Com alguma regularidade aqui tenho me referido a esse "traço" da nossa cultura cívica "a atençãozinha" ou à sua variante "dar um jeito". Trata-se de um fenómeno, um comportamento generalizado e com o qual parecemos ter uma relação ambivalente, uma retórica de condenação, uma pontinha de inveja dos dividendos que se conseguem e a tentação quotidiana de receber ou providenciar uma "atençãozinha" ou pedir ou dar um jeito, sempre "desinteressadamente", é claro.
Por outro lado, o cidadão comum, nós, sentimos, creio, algo de muito significativo, não acreditamos que exista verdadeira vontade política de combater a corrupção apesar de algumas iniciativas recentes da AR neste domínio.
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