O Público de hoje apresenta a anunciada entrevista de fundo com o Ministro Nuno Crato. A propósito das referências à revisão curricular já ontem referidas no âmbito da divulgação da entrevista, deixei algumas notas sob reserva da leitura completa do trabalho e que, no essencial, mantenho.
Algumas notas telegráficas sobre o trabalho de hoje. Boa parte da entrevista é dedicada a uma espécie de “update” do milagre da multiplicação dos pães insistindo obsessivamente na ideia de que “com menos vai fazer mais”. É, aliás, curioso que quando os entrevistadores questionaram o Ministro sobre a dimensão do corte orçamental para 2012, 400, 600 ou mais de 800 milhões de euros, este respondeu algo de notável, “depende do quadro que se leia”. O discurso assenta na recorrente ideia de menos custos, menos professores, menos recursos e, portanto, na convicção de que o milagre aconteça.
Relativamente à reforma curricular algo de ambíguo entre o reforço do que é ”essencial” e o nada de substantivo sobre a redução do enorme número de disciplinas, designadamente no 3º ciclo, embora me pareça positiva a intenção de incrementar a oferta educativa no sentido profissionalizante.
Duas áreas que me parecem fundamentais não mereceram abordagem do Ministro. Em primeiro lugar, a autonomia das escolas, que tem sido referida como intenção mas que ficou de fora desta entrevista e, segunda nota, nenhuma atenção dada à área relativa aos chamados apoios educativos.
É conhecida a enorme dificuldade que o sistema tem sentido na resposta educativa aos alunos, quer com necessidades educativas especiais, quer os que, por várias razões, carecem de alguma forma de apoio educativo. O normativo em vigor, o DL 3/2008, um mau serviço prestado aos alunos com necessidades especiais, conjugado com a escassez de recursos, sentida e anunciada, promovem a existência de muitas crianças sem os apoios necessários às suas necessidades. Uma palavra ainda sobre a ausência de informação sobre os apoios sociais escolares, cuja situção actual já coloca sérios problemas de resposta às necessidades e que em 2012, com o muito provável acréscimo das dificuldades das famílias, verá subir fortemente a procura.
Uma referência final ao ensino superior com, mais uma vez, a definição pouco clara dos cortes orçamentais e a intenção positiva de racionalizar a rede que está sobredimensionada.
Como síntese, acho pouco, e é pouco avisada a convicção de que em educação existem milagres. Não basta acreditar que tudo vai correr bem para que assim aconteça.
O Ministro referiu-se ao “choque que teve com a realidade”. Como aprende depressa começa a achar, como muitos políticos, que a realidade é a projecção dos seus desejos.
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