sexta-feira, 21 de outubro de 2011

CORROSÃO ÉTICA

A situação hoje conhecida do Ministro da Administração Interna que recebe um subsídio de alojamento apesar de ter um apartamento onde reside, representa apenas mais um exemplo de corrosão ética da nossa vida. Como é evidente, há sempre uma cobertura legal para estas manhas. É normal, o edifício legislativo português está cheio de buracos e alçapões que dão uma capa de legalidade a comportamentos perfeitamente obscenos em qualquer circunstância e mais ainda nos tempos que correm.
Estas informações constituem um insulto que nos deixa indignados mas, infelizmente, já não admirados e o despudor ético que tais comportamentos significam levam-me de novo a umas notas que há algum tempo aqui deixei.
O despertar das consciências para as questões do ambiente e da qualidade de vida colocou na agenda a questão das pegadas, das marcas, que imprimimos no mundo através dos nossos comportamentos. Este novo sentido dado às pegadas tornou secundárias e ultrapassadas as míticas pegadas dos dinossauros e as românticas pegadas que os pares de namorados deixam na areia da praia.
Fomo-nos habituando a ouvir referências às várias pegadas que produzimos com nomes e sentidos mais próximos ou mais distantes mas, sobretudo, tem-se acentuado a grande preocupação com a diminuição do peso, isto é, do impacto das nossas pegadas. Conhecemos a pegada ecológica numa perspectiva mais global ou, em entendimentos mais direccionados, a pegada hídrica, a pegada energética, a pegada verde, a pegada do papel, a pegada do carbono, etc.
Do meu ponto de vista e sempre preocupado com o ambiente, com a qualidade de vida e com a herança que deixaremos a quem nos segue, nunca encontro referências e muito menos inquietações sérias com a pegada ética, isso mesmo, a pegada ética. Os comportamentos e valores que genericamente mobilizamos têm, obviamente, uma consequência na qualidade ética da nossa vida que não é despicienda. Os maus-tratos e negligência que dedicamos aos princípios éticos mais substantivos provocam um empobrecimento e degradação do ambiente e da qualidade de vida das quais cada vez parece mais difícil recuperar.
As lideranças, hipotecando a sua condição de promotores de mudanças positivas são fortemente responsáveis pelo peso e impacto que esta pegada ética está a assumir.
Vai sendo tempo de incluir a pegada ética no universo da luta pelo ambiente, pela qualidade de vida e pelo futuro.

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