Somos reconhecidamente um dos países da Europa com o número mais alto de feriados. Para além dos feriados importa considerar, é essencial, as pontes que os feriados permitem. Como sabem a nossa história mostra que somos um país de pontes.
De vez em quando, por várias razões, surgem discursos ou tentativas de alterar a situação diminuindo os feriados. É curioso que sempre que se fala nestas questões se ouvem muitas vozes contra tantos feriados, designadamente contra as tolerâncias de ponto frequentemente decretadas, mas trata-se, do meu ponto de vista, de um fenómeno de dupla mensagem, ou seja, afirmamos que somos contra mas, na verdade, desejamos que a situação se mantenha. Esta situação no que respeita as feriados religiosos á ainda mais curiosa se nos lembramos que constitucionalmente nos definimos como uma república laica.
Os discursos consistentes e, provavelmente, menos hipócritas, contra o excesso de feriados, pontes e tolerâncias de ponto, são produzidos por uma minoria que entende que a situação económica e, ou, a laicidade do Estado não permitiriam suportar esta decisão. Uma parte significativa da população, cerca de 10%, os desempregados, ficarão, muitos, a pensar, que no “tempo em que tinha emprego tiveram situações destas" pelo que lhes é, actualmente, indiferente. A grande maioria da população no activo, fundamentada pela natureza da sua relação ética com o trabalho traduzida no velho paradigma “nunca mais me sai o euromilhões para deixar de trabalhar”, fica obviamente satisfeita com “uns diazinhos de folga” e ainda mais satisfeita se o tempo permitir umas idas até à praia ou à terra. Os miúdos, também vivem nesta cultura, pelo que não devem revelar-se particularmente incomodados com o fecho das escolas.
Por outro lado, temos um Governo que conhecendo bem a cultura predominante no cidadão comum e incomodado com a pressão que as incidências da crise, da aplicação do PEC e o exemplo da Grécia estão a ter e poderão acentuar-se no clima social, percebe que tem que ser cauteloso no cortar de “uns diazinhos de folga”. É também de considerar que interessa não deteriorar as relações com a hierarquia da Igreja que ainda estão fragilizadas desde a sequela da aprovação do casamento entre pessoas do mesmo género, da despenalização da interrupção voluntária da gravidez, bem como dos cortes nos apoios às actividades de muitas instituições sob tutela da igreja.
Vamos ver o que dá.
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