O I de hoje apresenta um trabalho interessante sobre o universo das autarquias e do impacto dos cortes impostos pela chamada crise nos seus quadros de pessoal.
Como era previsível as câmaras mais pequenas, sobretudo situadas no interior, será as que mais sentirão esse impacto.
Em muitos concelhos a autarquia é o principal empregador do concelho. Modelos de desenvolvimento que levaram ao abando da agricultura, promoveram a desertificação e um movimento fortíssimo de litoralização levaram a que em muitas zonas rurais as oportunidades de emprego escasseassem. Nessas circunstâncias, as autarquias assumiram uma espécie de programa social assegurando empregos que, naturalmente, não eram justificados pelas necessidades das câmaras. Esta prática, assumia ainda um resultado colateral, positivo, constitui um bom contributo para a contabilidade eleitoral pois, quer as admissões, quer a manutenção do emprego não estão, obviamente, fora da gestão dos interesses partidários presentes, muito presentes, na vida autárquica.
Lembro-me com frequência de ter assistido numa praça de uma vila do interior a um espectáculo muito curioso e elucidativo da gestão da coisa pública. Um funcionário recolhia diligentemente as ervas que cresciam entre as pedras da calçada. Colocava as ervas colhidas num balde junto do qual aguardava um outro funcionário que, quando finalmente (era demorado) o balde estava cheio, o despejava para um veículo de transporte que perto e a trabalhar permanentemente, tinha o condutor sentado ao volante. Sintetizando, três funcionários, em simultâneo, desenvolviam uma actividade que seria um exemplo notável do que não deve acontecer em matéria de gestão e eficácia.
No entanto, a situação que foi criada pelos modelos de desenvolvimento e pelas práticas políticas, que agora parece exigir o despedimento de gente em zonas de baixa capacidade de absorção ao nível do emprego, vai implicar o aumento substantivo das dificuldades que muita gente já atravessa.
Não vão fáceis os tempos.
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