quinta-feira, 6 de outubro de 2011

A TROIKA CUIDA DE MERCADOS, NÃO DE PESSOAS

Apesar de há dois dias ter deixado aqui algumas notas a propósito do anúncio do Ministro Nuno Crato de que o orçamento para a educação em 2012 teria um corte de 600 milhões de euros, hoje volto ao assunto.
Segundo o Público, os cortes na educação são já o triplo do exigido pela troika. Como sempre afirmei, a troika procurou fazer um negócio com Portugal que acautelasse os interesses dos mercados, os deuses que nos regem e que têm andado nervosos e sem confiança. Se atentarmos nos juros que a “generosa ajuda” da troika cobra aos países em dificuldade e, por isso, “ajudados”, percebemos como a caridade desinteressada é tão cara.
A troika, para ter a certeza que os interesses dos seus representados não corre riscos cria uma série de exigências garantindo, assim, que voltaremos aos mercados, o supremo objectivo da ajuda, sempre os mercados.
Neste contexto, quando o MEC cujo “core”, para falar a língua da gestão, é educação, ou seja pessoas, e não mercados, decide cortar, cortar, em muitos casos com óbvias consequências na qualidade da vida educativa de quem educa e de quem é educado, o caminho parece muito inquietante. Como é evidente, este discurso não esquece a necessidade óbvia de combater desperdício e ineficácia, mas sempre, sempre, com as pessoas no horizonte, não os mercados.
Curiosamente, na 1ª página do CM refere-se que os apoios sociais sofreram cortes de 1,3 mil milhões de euros. Lá estamos outra vez a falar de pessoas.
A educação, traduzida na qualificação bem sucedida dos alunos, é o garante do futuro e, se quiserem, até dos próprios mercados. Nesta perspectiva, que apesar de ser um lugar-comum é obviamente verdadeira, não podemos correr o risco de, para proteger os interesses dos nervosos mercados, criar recessão e exclusão e hipotecar de forma indesculpável o desenvolvimento e a qualidade educativa do trabalho com as gerações em formação.
O futuro custar-nos-á muito mais caro do que o presente e o Ministro que é especialista em contas deveria ser bastante mais cauteloso e menos troikista que a troika, o seu “core” é pessoas e não mercados, achava eu. Não teremos Novas Oportunidades, as que conhecemos levantam dúvidas sérias.

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