domingo, 16 de outubro de 2011

E AGORA? QUE FAZER COM A INDIGNAÇÃO?

Ao olhar para dimensão genérica das manifestações de ontem sob a bandeira dos "Indignados", encontramos apreciações que, como é habitual, consideram o copo meio cheio e outras que o percebem meio vazio. Assim, alguns dirão que foram bastante significativas e que poderemos estar no começo de uma mudança. Outros dirão que apesar do número razoável de manifestantes o nível de descontentamento genérico permitiria esperar números mais significativos, designadamente, fora de Lisboa.
Como seria de prever, a partidocracia está bem atenta a este conjunto de iniciativas. A oposição exprimindo simpatia pela ideia da indignação e mesmo os que actualmente ocupam o poder exprimem a sua inteira "concordância" com o direito à indignação. Ninguém quer, como é óbvio, perder alguma forma de boleia na indignação dos cidadãos, dos que estiveram presentes e, sobretudo, dos ausentes mas que se sabe sentirem-se, só podem, indignados.
Do meu ponto de vista, as grandes e graves questões colocadas nas manifestações de ontem e que se ligam à de 12 de Março mais direccionada para os problemas de uma geração à rasca, dificilmente serão significativamente alteradas sem algo de estruturalmente diferente em matéria de organização do trabalho, modelos de desenvolvimento económico, refrescamento da organização política e alterações culturais e éticas entre as elites políticas, culturais e económicas. O problema é que, entre os que em Portugal plausivelmente podem ascender ao poder nos tempos mais próximos, não se vislumbra projectos e visões que alterem significativamente o quadro instalado, são, diria, mais do mesmo. A partidocracia instalada, designadamente a que se move no chamado arco do poder tem, basicamente, o mesmo entendimento sobre os modelos de desenvolvimento económico, político e social que nos fizeram chegar aqui. Quem fez parte do problema, dificilmente pode fazer parte da solução. Se fizeram como fizeram e defendem o que têm defendido porque milagre ou mistério farão diferente?
Neste cenário, podem estabelecer-se duas perspectivas de continuação a curto e médio prazo. Uma primeira hipótese assenta num progressivo e rápido fortalecimento do movimento de indignação e revolta que escape ao controle da partidocracia e dos seus dispositivos como por exemplo o movimento sindical organizado, potenciando e agregando mais zonas e franjas de descontentamento criando uma pressão incomportável para o sistema que o obrigaria a alterações significativas, uma espécie de arabização de brandos costumes. Nesta primeira hipótese importa ainda considerar as reacções no quadro da União Europeia.
Numa segunda hipótese, este movimento de indignação, nesta fase disperso, pouco estruturado, pode acabar engolido pelos meandros da partidocracia tendo representado apenas um sobressalto inconsequente e rapidamente acomodado, mantendo alguma actividade de contestação visível que o próprio "sistema" verá com bons olhos e"acarinhará", como forma de drenar o descontentamento e legitimar a "democracia" das suas decisões.
No fundo, também se trata de perceber se a nossa democracia evoluirá com os partidos, apesar dos partidos ou, perigosamente, contra os partidos.
De qualquer forma, com alguma dose de realismo e segurança, certo, certo, é o período de enormes dificuldades que boa parte de nós vive e a desesperança que parece instalar-se e que nos ameaça o futuro.

2 comentários:

Anónimo disse...

http://15outportugal.wordpress.com/

anónimo paz disse...

Vou ser conciso...

A cativação dos movimentos cívicos pela partidocracia é no que dá uma democracia representativa.

O povo vota, põe os meninos na governação e depois fica indefeso aos desmandos durante quatro anos.

A seguir vêm os outros...e a música é a mesma.

Até têm medo dos referendos...

Há outras formas de democracia, algumas a ser utilizadas em países claramente desenvolvidos.

Temos que as conhecer e lutar por elas!!!


saudações