Um trabalho hoje divulgado pelo Público mostra que cerca de um terço das pessoas com toxicodependência que estão em tratamento continuam a consumir. Tal constatação evidencia as dificuldades que os quadros de dependência colocam para a sua ultrapassagem.
No entanto, para além das dificuldades próprias nestes processos importa considerar as consequências também neste universo da política de austeridade e cortes que se abateu sobre o país. Para além da anunciada extinção do IDT sabe-se que serão encerradas estruturas, redefinidos de horários de atendimento, sendo também diminuídos os recursos humanos. Há algumas semanas foi noticiada uma redução envolvendo cerca de 200 técnicos, psicólogos, enfermeiros e assistentes sociais, que integravam as unidades de tratamento de proximidade com resultados positivos reconhecidos.
O presidente do IDT embora aceitando o impacto negativo destes cortes, procura não sobrevalorizar a situação. Por outro lado, sem o peso da hierarquia a condicionar opiniões, os especialistas referem as consequências negativas de tal decisão e teme-se que a situação de crise e a diminuição de apoios possa potenciar casos de recaídas bem como o aumento dos comportamentos de consumo.
Existem áreas de problemas nas comunidades em que os custos da intervenção são claramente sustentados pelas consequências da não intervenção. A toxicodependência é uma dessas áreas. Um quadro de toxicodependência não tratado desenvolve-se habitualmente, embora possam verificar-se excepções, numa espiral de consumo que exige cada vez mais meios e promove mais dependência. Este trajecto potencia comportamentos de delinquência, alimenta o tráfico, reflecte-se nas estruturas familiares e de vizinhança, inibe desempenho profissional, promove exclusão e guetização. Este cenário implica por sua vez custos sociais altíssimos e difíceis de contabilizar.
Costumo dizer em muitas ocasiões que se cuidar é caro façam as contas aos resultados do descuido. Assim sendo, dificilmente se entendem algumas opções.
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